O Conselho de Administração da Petrobras aprovou a nomeação de Magda Chambriard como a nova presidente-executiva e conselheira da estatal. Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ela assumiu o comando da empresa na sexta-feira (24), mesmo dia em que teve o nome aprovado pelo conselho administrativo.
Magda Chambriard é mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem carreira na Petrobras desde 1980. Ela será a segunda mulher a comandar a estatal. A primeira foi Graça Foster (2012-2015). Experiente na indústria de gás e petróleo, Chambriard foi diretora geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no primeiro governo de Dilma Rousseff. Mas, pouco antes do governo da ex-presidente, em 2002, ela já integrava a ANP na assessoria da diretoria de Exploração e Produção, onde esteve à frente das superintendências de Exploração e de Definição de Blocos.
Relação com o governo
Magda Chambriard foi indicada por Lula para assumir o lugar do ex-presidente da estatal, Jean Paul Prates. Ele foi exonerado do cargo em 14 de maio após enfrentar embates entre o governo, em especial com o Ministério de Minas e Energias. Dias após a saída do ex-presidente, 20 funcionários da Petrobras de confiança dele também foram demitidos. O procedimento faz parte do processo de reestruturação dos quadros da empresa durante a transição para um novo comando, padrão dentro da estatal.
Por ter sido indicada pelo presidente Lula, a expectativa é que a nova presidente da Petrobras alinhe medidas e estratégias da empresa com os interesse do governo. Ao Correio da Manhã, o economista Roberto Luis Troster ressaltou que a medida foi tomada já que “às vezes, os interesses da empresa Petrobras não são os mesmos que o governo tem com a estatal”.
O economista pontuou que a gestão de Magda terá quatro pilares de mudanças em relação ao comando de Jean Paul Prates. O primeiro se refere à questão dos dividendos, que foi um dos principais embates na gestão anterior com os interesses do governo.
Em abril, a Petrobras anunciou a remuneração a seus acionistas de R$ 21,9 bilhões em dividendos extraordinários, após ter inicialmente retido essa distribuição, surpreendendo o mercado. O valor equivale a 50% dos repasses possíveis do exercício de 2023. A outra metade não distribuída dos dividendos extraordinários possíveis ficou em uma reserva estatutária da empresa, e poderia ser distribuída até o final de 2024, conforme proposta do governo em assembleia da companhia.
Na última quarta-feira (22), o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, informou que o governo cogitou como cenário provável a distribuição de 100% dos dividendos extraordinários da Petrobras, ao atualizar a projeção oficial para as contas públicas do ano. Segundo Ceron, dos R$ 14 bilhões a mais projetados pela equipe econômica para este ano em receitas com dividendos em seu relatório bimestral de avaliação fiscal, R$ 13 bilhões dizem respeito a pagamentos que seriam feitos pela Petrobras. A previsão do recolhimento integral de dividendos extraordinários acontece pela troca recente de CEO da estatal.
O segundo pilar é uma política maior de investimentos, ajudando a alavancar a economia. “O governo também quer mais investimentos da Petrobras do que Prates estava fazendo”. Como terceiro ponto, Ceron assinala a polêmica questão da exploração de petróleo na bacia amazônica. O tema vem dividindo ambientalistas ligados à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e desenvolvimentistas. Foi, inclusive, a causa da saída do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) da Rede.
Há a expectativa do plano de investimentos da empresa ser revisto. Atualmente, o plano é de US$ 102 bilhões (de dólares) em investimentos até 2028. De acordo com a Ativa Investimentos, "já surgem notícias de que Magda teria se comprometido a acelerar projetos como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a Refinaria Abreu e Lima".
O quarto pilar é a política de reajuste de preços. Preços mais altos dos combustíveis têm impacto na inflação. Mas o preço do petróleo, por outro lado, segue ao mesmo tempo critérios internacionais. “As posições do governo, como um todo, e as posições da Petrobras, nesses quatro itens são diferentes”, explica Troster.