Por: Da Redação

Rivaldo nega envolvimento na morte de Marielle

Rivaldo disse à PF que sequer conhecia os irmãos Brazão | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Vingança por ter sido preso. Essa foi a justificativa dada por Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia
Civil do Rio de Janeiro, para ter sido incluído na delação premiada de Ronnie Lessa na trama para assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. Rivaldo negou qualquer participação no crime. Disse que não conhece os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, respectivamente deputado pelo União Brasil do Rio de Janeiro e ex-desembargador, apontados por Ronnie Lessa, junto com o próprio Rivaldo, como mandantes do crime. Lessa é o assassino confesso de Marielle e Anderson.

O depoimento de Rivaldo Barbosa foi marcado a pedido dele. Da cadeia, ele escreveu um bilhete ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, relator do inquérito, implorando para ser ouvido. Diante do pedido, Moraes autorizou a oitiva, que aconteceu na tarde de segunda-feira (3).

No depoimento, o ex-chefe da Polícia Civil disse, então, ter sido vítima de uma armação de Ronnie Lessa. Diante do que ele declarou, fontes próximas ao caso afirmam que não haveria chance de Rivaldo vir a colaborar com a investigação, já que ele nega qualquer participação. Assim, se afirma não estar envolvido, não teria o que acrescentar numa eventual colaboração.

“Ele nunca esteve com essas pessoas, não conhece essas pessoas”, afirmou, referindo-se aos irmãos Brazão, o advogado Marcelo Ferreira, que representa Rivaldo, após o depoimento. Segundo Ferreira, Rivaldo entregou seu celular ao ser preso. “Cadê as conversas com ele?”, questionou. “Se foi combinado um ano antes que ele receberia um valor para não investigar um crime que aconteceria no futuro, cadê qualquer elemento em relação a isso? Não tem. A Polícia Federal não conseguiu trazer isso, e ficou muito claro no depoimento que realmente ele nunca teve contato com ninguém”.

Rivaldo Barbosa foi preso no dia 24 de março, no Rio de Janeiro. No mesmo dia, foram presos Chiquinho e Domingos Brazão. O policial foi enviado para a penitenciária de Brasília. A acusação contra ele é de que teria ajudado a planejar o crime e que atuaria na polícia no sentido de atrapalhar o curso das investigações.

Milícia

No seu depoimento, Ronnie Lessa, além de confessar o crime, disse que, mais do que ser contratado para o assassinato, teria recebido um convite para, a partir daí, entrar também para a milícia da qual, segundo ele, faziam parte os irmãos Brazão. Segundo ele, para integrar uma “sociedade”. Ele afirma que receberia o comando de uma nova área de loteamentos em Jacarepaguá, zona Oeste do Rio, que passaria a comandar. Um negócio, segundo ele, milionário.

Nesse processo, ele afirma que a função de Rivaldo seria desviar o foco da apuração, afastando a investigação dos Brazão. Nas palavras de Ronnie Lessa, para direcionar o “canhão para outro lado”.

Negativa

À Polícia Federal, Rivaldo negou toda a versão. Disse que não conhecia os Brazão. E que foi ele quem descobriu a autoria do crime e prendeu Ronnie Lessa. Seu envolvimento seria, então, uma vingança do assassino confesso de Marielle.

Rivaldo Barbosa tornou-se chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes do assassinato de Marielle e de seu motorista. No dia seguinte ao assassinato, nomeou Giniton Lajes para comandar a Delegacia de Homicídios.

No relatório da investigação, a Polícia Federal afirma que a escolha de um homem de confiança serviria para “sabotar” a investigação em um momento sensível da apuração. Segundo a PF, os dois só teriam prendido Lessa porque teria havido pressão da mídia nesse sentido. A defesa de Giniton afirma que a hipótese levantada pela PF é uma “infâmia grosseira” e reafirma que ele e Rivaldo é que descobriram o autor do crime, não a Polícia Federal.

Confiança

Quando Rivaldo foi preso, a própria mãe de Marielle, Marinete Silva, mostrou-se de certa forma surpresa. Ela afirmou que Marielle confiava no então chefe da Polícia Civil, e que chegou mesmo a colaborar com ele em outras ocasiões. Segundo Marinete, Marielle teria chegado a atuar para que Rivaldo, como policial, entrasse no Complexo da Maré depois de uma chacina, negociando, como autoridade política, a sua integridade física.

À família de Marielle, Rivaldo chegou a declarar que era “questão de honra” elucidar o crime.