Por: Gabriela Gallo

Moraes derruba sigilo de delação de Ronnie Lessa

Moraes acatou pedido de defesa para transferir Lessa para Complexo Penitenciário de Tremembé | Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Quase três meses após homologar a delação premiada de Ronnie Lessa, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes derrubou o sigilo da delação premiada feita pelo ex-policial militar do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (07). Lessa está preso por matar a tiros a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e seu motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.

Delação
Em sua delação às autoridades, Lessa disse que aceitou o trabalho proposto sem nem saber que a vítima era Marielle Franco sob a promessa de “ficar rico”. À PF, ele informou que recebeu a proposta de US$ 10 milhões pelos irmãos Brazão (o deputado federal Chiquinho e o Conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos) para executar o assassinato, além de passar a ter o comando da milícia. “Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (...) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa”, destacou.

No dia do assassinato, Lessa narrou que eles acompanharam o carro de Marielle, com o o ex-policial militar Élcio Queiroz dirigindo e Lessa no banco traseiro armado com uma submetralhadora. Quando o carro parou no semáforo eles atiraram e mataram os dois. Depois do assassinato eles se desfizeram das provas e foram para um bar local, onde Lessa descobriu que também tinha assassinado Anderson Gomes. “O garçom mostrou as fotos para gente e aí descobrimos que tinha mais uma pessoa morta. Até então eu não sabia. Não era a finalidade. A coisa ficou mais tensa", destacou.

Na mesma noite ele se encontrou com o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa (Suel) para que ele destruísse o carro usado no assassinato. Suel atualmente está preso apontado como cúmplice de Lessa. Ele ainda reiterou que nenhum dos envolvidos esperava o alcance “estratosférico” que as notícias tomariam sobre a morte de Marielle e Anderson, o que fez os envolvidos ficarem preocupados já que a situação tinha “saído de controle”.

Sobre a promessa de ter o comando de uma milícia, Lessa destacou que faria parte de uma "sociedade" com os irmãos Brazão. “Eu não fui contratado para matar Marielle como um assassino de aluguel, eu fui chamado para uma sociedade", destacou. Essa nova milícia começaria em um loteamento oferecido em Jacarepaguá, zona central do Rio, e que Marielle era uma “pedra no sapato” dos Brazão e por isso tinha que ser eliminada.

"Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste do Rio], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho", reforçou. Ele também confirmou que o delegado da Polícia Civil do estado Rivaldo Barbosa foi um autores intelectuais do crime. Ele teria recebido R$ 400 mil para desviar as investigações do caso e garantir que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime.

Transferência
Na mesma decisão de derrubar o sigilo da delação, Moraes também autorizou a transferência de Ronnie Lessa para o Complexo Penitenciário de Tremembé (SP), presídio de segurança máxima que está com superlotação. Atualmente, o preso está detido no presídio federal de Campo Grande (MS).

A transferência foi um pedido dos advogados de defesa do preso, que alegam que ele estará mais próximo da família. No entanto, autoridades prisionais se manifestaram contrárias à mudança do detento. Na noite deste sábado (08), o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (Sifuspesp) divulgou uma nota contra a transferência do detento. De acordo com o presidente do sindicato, Fábio Jabá, as duas penitenciárias do complexo são inadequadas para um preso. Uma é dominada por membros facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PPC), o que colocará Lessa em risco de vida, além de aumentar a movimentação no complexo. “Isso vai criar uma instabilidade da segurança da prisão”, destacou Jabá. Já a segunda unidade não recebe detentos ligados ao crime organizado, como milicianos. A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) que gerencia o complexo de Tremembé reforço que o presídio não tem condições de receber Lessa.