Por: Ana Paula Marques

Lula hesita sobre Juscelino Filho

Lula quer ganhar tempo na decisão sobre Juscelino | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Indiciado pela Polícia Federal (PF) por corrupção, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), pressiona uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a estratégia do petista parece ser ganhar tempo. Na última quinta-feira (13), Lula disse que vai conversar com o ministro, mas só após a viagem pela Europa, onde cumpre agenda no G7. Além disso, o presidente declarou que o ministro tem “direito de provar que é inocente”.

"Eu acho que o fato de o cara estar indiciado não significa que o cara cometeu um erro. Significa que alguém está acusando e a acusação foi aceita. Agora, eu preciso que as pessoas provem que são inocentes. E ele tem o direito de provar que é inocente”, disse.

A conversa aprofundada sobre o assunto só acontece na nesta próxima semana. O próprio presidente declarou que não tinha “essa pressa” de ter a conversa com o ministro. "Digo para todo mundo: só você sabe a verdade. Se você cometer um erro, reconheça que cometeu. Se você não cometeu, brigue. Brigue pela sua inocência. Esse é um lema, sabe, que tenho dito para todos os ministros”, disse.

Juscelino Filho é suspeito de desviar emendas parlamentares ainda quando era deputado federal. Segundo a PF, ele supostamente integra uma organização criminosa e teria cometido o crime de corrupção passiva relacionado a desvios de recursos de obras de pavimentação custeadas com dinheiro público da estatal federal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O ministro nega que tenha cometido irregularidades.

O tempo dirá

Para o coordenador de Análise Política da BMJ Consultores Associados, Lucas Fernandes, o presidente Lula deve esperar e só o tempo irá determinar uma decisão do presidente. “Neste momento, em que o Planalto está colecionando uma série de derrotas no Congresso Nacional, o presidente não pode se dar ao luxo de criar uma indisposição com um partido que tem três ministérios, e que é uma bancada relevante dentro da Câmara dos Deputados. O presidente deve usar exatamente essa linha de defesa, de que vai dar o tempo para que o ministro consiga se defender na justiça e Lula só deve tomar uma decisão se houver condenação na segunda instância”, explica.

Para o especialista, a estratégia seria manter o ministro na ativa para cobrar uma maior aproximação de seu partido, o União Brasil, que, apesar dos ministérios, não entrega tantos votos para as pautas do governo. “É a oportunidade do presidente demonstrar boa vontade e tentar com isso cobrar maior fidelidade do partido e maior responsabilidade de Juscelino Filho nas articulações com a Câmara”, entende.

Relações em jogo

A questão é profundamente política. Além do partido que faz parte do maior bloco parlamentar do Congresso, o Centrão, Juscelino Filho foi indicado a ministro pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), principal cotado para próximo presidente da Casa.

Além de não querer se indispor com o futuro comandante do Senado, quem decide qual projeto será votado e tem força para articular votos. O presidente também não quer perder um importante aliado, líder de um importante colegiado.

Regionalização

Para o cientista político Guilherme Carvalhido, o que deve influenciar a decisão do presidente é a regionalização. “O Centrão do Nordeste é muito caro para Lula. Juscelino Filho é do Maranhão e essa região é um reduto petista. Se o ministro fosse um político fraco, o presidente já estaria perguntando ao próprio partido de Juscelino quem seria o eleito para substituir”, explica.

Apesar de ser cedo para uma previsão, caso o ministro seja condenado pela justiça, um nome para assumir o cargo dele deve vir diretamente do grupo de Alcolumbre, defende o especialista. “Mas, para isso, os aliados e o próprio presidente da CCJ devem esperar o peso da opinião pública no eleitorado nordestino, que será testado logo mais com a eleição para as prefeituras da região”, disse.

Juscelino vem dando ‘dor de cabeça’ ao governo desde que assumiu a pasta das Comunicações. O inquérito que indiciou Juscelino foi aberto a partir de uma série de reportagens reveladas pelo jornal O Estado de S.Paulo, que mostrou que o ministro colocou R$ 5 milhões do orçamento secreto na Prefeitura de Vitorino Freire (MA), comandada por sua irmã, Luanna Rezende (União).