Por: Ana Paula Marques

Lula ameniza, mas PT entra em guerra contra Campos Neto

Lula e o PT voltam suas baterias contra Campos Neto | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O clima segue tenso no conflito entre o governo e o Banco Central (BC). Após a decisão anunciada pelo banco de manter a taxa básica de juros em 10,5%, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a autonomia do órgão. Mas, além das farpas de Lula, o PT resolveu iniciar uma campanha nas suas redes sociais pedindo a saída do presidente do BC, Roberto Campos Neto. O partido estimula a hashtag “Fora Campos Neto”.

Em entrevista à rádio Verdinha, do Ceará, na última quinta-feira (20), o presidente Lula usou um tom mais ameno do que na véspera, quando atacou duramente Campos Neto. Diante da decisão unânime do BC de manter a taxa de juros, Lula concluiu que não adiantava chorar sobre o leite derramado. “Foi uma pena que o Copom manteve. Quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro, porque quanto mais juros, menos investimento no país”, disse Lula.

As críticas não foram bem recebidas pelo mercado econômico. Apesar de a bolsa ter operado em queda após a taxa básica de juros se manter em 10,5%, o dólar atingiu R$ 5,46 na quinta após as falas do presidente. Esse é o maior valor registrado durante o terceiro mandato de Lula até o momento.

Autonomia

O presidente também voltou a questionar a autonomia do BC. "Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?", questionou Lula. Na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária sobre a taxa básica de juros da economia pelos próximos 45 dias, o presidente chegou a acusar Campos Neto de “trabalhar mais para prejudicar do que para ajudar o país”, numa entrevista à rádio CBN.

As duras críticas não começaram agora. Desde que tomou posse pela terceira vez, o presidente e a base petista têm se voltado contra o presidente do Banco Central. A autonomia como autoridade monetária foi concendida ao Banco Central no governo Jair Bolsonaro. Então, o presidente do BC ganhou um mandato que ultrapassa o governo que indicou avançando dois anos sobre o governo posterior. Lula não aceita isso.

Nas eleições de 2022, Campos Neto votou usando uma camisa da seleção brasileira, o que foi interpretado por Lula como uma opção por seu adversário, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Recentemente, o presidente do BC participou de um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tido como provável nome da oposição como candidato à Presidência em 2026.

O jantar aumentou as especulações de que, em uma eventual vitória do governador de São Paulo nas futuras eleições para a Presidência do Brasil, Campos Neto poderia aceitar sentar na cadeira de ministro da Fazenda.

Bancada petista

No último dia 19, a bancada do PT na Câmara dos Deputados ingressou com uma ação popular na Justiça contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A ação diz que ele está se articulando politicamente e que isso prejudicaria a imparcialidade necessária para dirigir a instituição.

A situação se complica, já que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é cotado a assumir o BC neste ano quando acabar o mandato de Campos Neto, indicado por Lula. Havia uma especulação de que ele poderia vir a ser voz dissonante no BC contra a manutenção dos juros. Mas a decisão foi unânime.

Ânimos

Para a analista política da BMJ Consultores Associados, Raquel Alves, as críticas a Campos Neto e ao BC não ajudam e podem até piorar o ambiente político. “Apesar de não haver o risco de o Senado Federal vetar uma indicação do presidente Lula ao banco, essa falas acentuam um ambiente já tenso. O presidente usa a estratégia de atacar um inimigo comum e essa não é uma boa direção a se tomar, já que aumenta a polarização”, disse.

O ideal, segundo a especialista, é criar um ambiente propício para uma sabatina tranquila com um conjunto da articulação para construir o ambiente passível de conversa.

“As críticas mantêm um clima ruim agora com outro inimigo, o Banco Central. É mais um problema para um presidente que sempre fala em pacificar a polarização, mas que segue ele mesmo a alimentando”, disse.