Depois das enchentes no Rio Grande do Sul, novo evento climático desafia as ações do governo. Devido ao aumento nos focos de incêndios que assolam o bioma do Pantanal, em Mato Grosso do Sul (MS), o governo federal irá liberar R$ 100 milhões para ações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para tentar conter as chamas. O anúncio foi feito nesta terça-feira (25). Segundo a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, a medida visa salvar "a maior planície alagável do mundo”.
Nesta segunda-feira (24), o governo federal deu início à segunda reunião na Sala de Situação para ações de controle e prevenção do desmatamento e enfrentamento de incêndios e queimadas no Pantanal e na Amazônia. Atualmente, estão atuando no território 175 brigadistas do Ibama, 40 do ICMBio e 53 combatentes da Marinha, que agem em conjunto com as polícias e bombeiros locais. Nesta terça-feira, foi anunciado o reforço de mais 50 brigadistas do Ibama e 60 agentes da Força Nacional. O Ministério da Defesa também disponibilizará seis helicópteros, duas aeronaves e também embarcações necessárias ao transporte dos militares e brigadistas pelos rios. Uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) consegue transportar 10 mil litros de água por viagem.
Na sexta-feira (28), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, Simone Tebet e o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, devem ir a Corumbá (MS), cidade com maior concentração dos incêndios. Corumbá é conhecida como a "capital do Pantanal" e abriga 60% do bioma, sendo a principal zona urbana da região.
Fogo
De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), somente neste ano as chamas já consumiram cerca de 627 mil hectares do Pantanal em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul. Destes, o fogo consumiu 148 mil hectares no estado vizinho de Mato Grosso e 480 mil no Mato Grosso do Sul. Os dados representam um aumento de 142,9% em comparação aos hectares queimados em 2020, ano recorde de queimadas registradas no bioma (258 mil). De janeiro a junho deste ano, foram registrados mais de 2.500 focos de incêndio.
O estrago causado pelo fogo no bioma foi tamanho que o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência. O decreto, publicado no Diário Oficial do estado na segunda-feira (24), abrange as áreas afetadas pelo fogo, sem especificar os municípios diretamente atingidos. Na prática, a medida autoriza a realização de licitações sem edital para ações emergenciais, agilizando a resposta às crises.
A ministra Marina Silva disse que o Pantanal vive uma das “piores situações já vistas” e declarou que grande parte dos atuais incêndios são provocados pela ação humana, a maioria vindo de origem de criminosos.
“O Ministério do Meio Ambiente, com todos os setores do governo, tem se planejado para a ação, mas é bom que a gente saiba que há uma junção de 3 fenômenos: questão da mudança do clima, o El Niño e a La Niña sem um interstício que antes a gente tinha, e os processos criminosos de atear fogo. Alguns deles nós já sabemos existirem e estão sendo comprovados. E [também] uma prática de fazer incêndio a partir da renovação de pastagem. […] Nos municípios em que mais desmata é onde mais tem incêndio”, afirmou a ministra à imprensa após a reunião da sala de situação.
Ela ainda completou que conter as chamas é algo que exige de toda a sociedade, inclusive porque 85% dos incêndios no Pantanal neste ano foram registrados em propriedades privadas. “Infelizmente, fenômeno é incomparavelmente maior do que a capacidade humana de combater esses processos. Não é só o governo que tem que se preparar para esses fenômenos, é toda a sociedade. Neste momento, é fundamental parar de usar o fogo para qualquer coisa", acrescentou.