Lula hesita sobre Juscelino Filho

Presidente defende presunção de inocência de ministro indiciado pela PF

Por Ana Paula Marques

Lula quer ganhar tempo na decisão sobre Juscelino

Indiciado pela Polícia Federal (PF) por corrupção, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), pressiona uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a estratégia do petista parece ser ganhar tempo. Na última quinta-feira (13), Lula disse que vai conversar com o ministro, mas só após a viagem pela Europa, onde cumpre agenda no G7. Além disso, o presidente declarou que o ministro tem “direito de provar que é inocente”.

"Eu acho que o fato de o cara estar indiciado não significa que o cara cometeu um erro. Significa que alguém está acusando e a acusação foi aceita. Agora, eu preciso que as pessoas provem que são inocentes. E ele tem o direito de provar que é inocente”, disse.

A conversa aprofundada sobre o assunto só acontece na nesta próxima semana. O próprio presidente declarou que não tinha “essa pressa” de ter a conversa com o ministro. "Digo para todo mundo: só você sabe a verdade. Se você cometer um erro, reconheça que cometeu. Se você não cometeu, brigue. Brigue pela sua inocência. Esse é um lema, sabe, que tenho dito para todos os ministros”, disse.

Juscelino Filho é suspeito de desviar emendas parlamentares ainda quando era deputado federal. Segundo a PF, ele supostamente integra uma organização criminosa e teria cometido o crime de corrupção passiva relacionado a desvios de recursos de obras de pavimentação custeadas com dinheiro público da estatal federal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O ministro nega que tenha cometido irregularidades.

O tempo dirá

Para o coordenador de Análise Política da BMJ Consultores Associados, Lucas Fernandes, o presidente Lula deve esperar e só o tempo irá determinar uma decisão do presidente. “Neste momento, em que o Planalto está colecionando uma série de derrotas no Congresso Nacional, o presidente não pode se dar ao luxo de criar uma indisposição com um partido que tem três ministérios, e que é uma bancada relevante dentro da Câmara dos Deputados. O presidente deve usar exatamente essa linha de defesa, de que vai dar o tempo para que o ministro consiga se defender na justiça e Lula só deve tomar uma decisão se houver condenação na segunda instância”, explica.

Para o especialista, a estratégia seria manter o ministro na ativa para cobrar uma maior aproximação de seu partido, o União Brasil, que, apesar dos ministérios, não entrega tantos votos para as pautas do governo. “É a oportunidade do presidente demonstrar boa vontade e tentar com isso cobrar maior fidelidade do partido e maior responsabilidade de Juscelino Filho nas articulações com a Câmara”, entende.

Relações em jogo

A questão é profundamente política. Além do partido que faz parte do maior bloco parlamentar do Congresso, o Centrão, Juscelino Filho foi indicado a ministro pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), principal cotado para próximo presidente da Casa.

Além de não querer se indispor com o futuro comandante do Senado, quem decide qual projeto será votado e tem força para articular votos. O presidente também não quer perder um importante aliado, líder de um importante colegiado.

Regionalização

Para o cientista político Guilherme Carvalhido, o que deve influenciar a decisão do presidente é a regionalização. “O Centrão do Nordeste é muito caro para Lula. Juscelino Filho é do Maranhão e essa região é um reduto petista. Se o ministro fosse um político fraco, o presidente já estaria perguntando ao próprio partido de Juscelino quem seria o eleito para substituir”, explica.

Apesar de ser cedo para uma previsão, caso o ministro seja condenado pela justiça, um nome para assumir o cargo dele deve vir diretamente do grupo de Alcolumbre, defende o especialista. “Mas, para isso, os aliados e o próprio presidente da CCJ devem esperar o peso da opinião pública no eleitorado nordestino, que será testado logo mais com a eleição para as prefeituras da região”, disse.

Juscelino vem dando ‘dor de cabeça’ ao governo desde que assumiu a pasta das Comunicações. O inquérito que indiciou Juscelino foi aberto a partir de uma série de reportagens reveladas pelo jornal O Estado de S.Paulo, que mostrou que o ministro colocou R$ 5 milhões do orçamento secreto na Prefeitura de Vitorino Freire (MA), comandada por sua irmã, Luanna Rezende (União).