Câmara deve votar projeto sobre delação premiada

Urgência do texto foi aprovada em menos de dez minutos

Por Ana Paula Marques

Lira pretende colocar em votação temas aprovados em urgência

Por Ana Paula Marques

Após uma votação simbólica que durou dez minutos, os deputados aprovaram a urgência para o projeto de lei que acaba com a delação premiada de presos na semana passada. Agora o texto deve entrar na pauta da Câmara dos Deputados ainda nesta semana. Apesar de não ter uma data para a votação, com a aprovação da urgência, o texto poderá ser analisado diretamente pelo plenário da Casa, sem necessidade de passar por comissões temáticas.

Apesar da aceleração do texto, os deputados ainda precisam votar o mérito da proposta. Após a votação-relâmpago, alguns deputados de partidos como PT, PSB, PC do B, PSOL, Novo e União Brasil pediram para que fossem registrados seus votos contrários, já que, em uma votação simbólica não há registro individual de votos.

O projeto, que antes era uma pauta petista, apresentada em 2016 pelo então deputado Wadih Damous (PT-RJ), hoje secretário do Consumidor no Ministério da Justiça, no encalço da Operação Lava Jato que mirou na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora se tornou uma pauta que pode beneficiar o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). Na verdade, o texto que irá a votação não é o projeto original de Wadih Damous, mas outra proposta no mesmo sentido apresentada pelo líder do PV na Câmara, Luciano Amaral (AL). O PV é parte da mesma federação do PT, na qual também está o PcdoB.

Especialistas divergem sobre a possibilidade da proposta de Luciano Amaral retroagir e anular situações em que já houve delações firmadas com detidos. O texto poderia beneficiar Bolsonaro, por exemplo, alvo da delação do seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. A proposta que deve ser votada tem somente dois parágrafos e estabelece que, para ocorrer uma delação premiada, o interessado em colaborar com as autoridades não pode estar preso.

Pautas ideológicas

Outro assunto que deve entrar na pauta é o projeto que teve sua urgência aprovada na última quarta-feira (12). O projeto de lei 1904/2024, que iguala a pena do aborto feito após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. Em meio ao desgaste público que o texto teve nos últimos dias, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recuou e indicou a possibilidade de mudanças no PL.

Na última sexta-feira (14), o governo federal reagiu ao texto. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o governo vai atuar contra o projeto de lei. "Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto no país, ainda mais num projeto que estabelece que uma mulher estuprada vai ter uma pena duas vezes mais que o estuprador", afirmou. No sábado (15), o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva postou no seu perfil no X (antigo Twitter) texto contra o projeto.

Pacheco

Já pela Casa ao lado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a renegociação de dívidas previdenciárias dos municípios com a União será discutida com o presidente Lula no encontro que os dois devem ter nesta semana. Outro assunto que deve tomar a atenção dos senadores é a Medida Provisória 1227, apesar do texto que propunha alterações nas regras do PIS/ COFINS ter sido devolvido por Pacheco.

Apesar de ter devolvido a MP do governo, Pacheco minimizou os impasses alegando que há um longo processo de "pacificação e entendimento" entre Executivo e Legislativo.

A proposta era uma medida para tentar compensar a desoneração da folha dos 17 setores da economia. Por conta da rejeição, agora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta vai auxiliar o Senado na análise de medidas para compensar a desoneração. O prazo para a solução é curto porque em maio o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, deu 60 dias para ser encontrada a compensação.

Tributária

Nessa segunda-feira (17), os sete integrantes do Grupo de Trabalho (GT) da Câmara dos Deputados para regulamentação da reforma tributária se reúnem para fazer um balanço das primeiras audiências públicas sobre o projeto e começar a desenhar o novo texto para a tributária.

Apesar de ainda estar em fase de audiências públicas, que devem durar até o dia 20 deste mês, o grupo manifesta a intenção de deixar o texto do governo mais "limpo e claro" e levantar quais são os principais conflitos e demandas sobre o que precisa ser modificado, para depois começar a decidir o que pode e o que não pode ser aceito pelo GT.