Reunião sobre gastos acaba preocupando Lula

Ministros afirmam que presidente está "mal impressionado" com volume de renúncias fiscais

Por Ana Paula Marques

Lula acha exagero quantidade de incentivos fiscais

Em meio ao debate sobre gastos do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se, na segunda-feira (17), com os ministros que compõem a Junta de Execução Orçamentária (JEO). Após a reunião, a cúpula econômica afirmou que o chefe do Executivo mostrou-se “mal impressionado” com o aumento de subsídios, as renúncias e benefícios fiscais, no país.

A JEO é formada pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda; Simone Tebet do Planejamento e Orçamento; Rui Costa, da Casa Civil, e Esther Dweck, da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Os ministros fizeram uma apresentação do quadro fiscal do país ao presidente, principalmente dando ênfase à análise do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as contas do primeiro ano do terceiro mandato do governo. Além de também apresentar o tamanho dos gastos tributários. De acordo com Tebet, Lula ficou preocupado. A equipe agora deve apresentar possíveis soluções para a elevação das despesas.

Segundo a ministra, os subsídios correspondem a renúncias fiscais e benefícios financeiros concedidos pelo governo federal. A soma atinge R$ 646 bilhões, sendo que só os benefícios tributários somam R$ 519 bilhões. Haddad também acrescentou que a equipe já apresentou ao presidente dados para a formulação da proposta de lei orçamentária de 2025. Lula pediu que a equipe econômica estude os números para apresentar alternativas que resolvam as renúncias fiscais.

A ministra citou como exemplo de preocupação o aumento do gasto da Previdência Social.

Haddad na mira

O ministro da Fazenda também disse que o time apresentou explicações sobre a redução da carga tributária do país. A maior causa disso, segundo Haddad, seria a pressão que setores fazem sobre as medidas de correção dos gastos fiscais que estão sendo tomadas pela Fazenda.

Um dos exemplos, seria a Medida Provisória (MP) que limitava o uso de créditos de PIS/Cofins, amplamente rechaçada tanto pelo setor produtivo brasileiro quanto pelos parlamentares, o que acabou abalando a imagem do ministro e gerou instabilidade na bolsa com a alta do dólar. A MP acabou devolvida pelo Congresso Nacional.

Somadas, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), a Contribuição para a Previdência Social, a Contribuição Social para o PIS-Pasep e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido somaram R$ 274 bilhões de renúncias de receitas em 2023, representando mais da metade dos gastos tributários no ano.

Após a aprovação de uma série de iniciativas para aumentar a arrecadação, a equipe econômica segue pressionada para apresentar medidas de reavaliação das despesas. Outro destaque ressaltado pelo ministro Haddad foi que a carga tributária caiu no ano passado e que o governo fez uma recomposição para tentar reequilibrar as contas. Em 2023, a carga recuou mais de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB).

Orçamento secreto

O agora ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino marcou para primeiro de agosto uma audiência para discutir suposto descumprimento de decisão do Tribunal que determinou a inconstitucionalidade do chamado “orçamento secreto”. A determinação é tanto para o Congresso Nacional quanto para o governo federal.

Conforme o ministro, até o momento “não houve a comprovação plena do cumprimento” da determinação do Supremo que derrubou o modelo de distribuição de emendas. Em 2022, o STF, declarou, por 6 votos a 5, a inconstitucionalidade das emendas de relator. Na época, os ministros concordaram que faltava transparência na destinação de recursos pela modalidade.

As emendas parlamentares do tipo RP9 que, entre 2020 e 2022, permitiram aos congressistas direcionar a aplicação de recursos públicos de forma anônima, ficaram conhecidas como 'orçamento secreto'. O sistema foi criado em 2020 a partir de um acordo entre o governo de Jair Bolsonaro e o Congresso para que uma parte significativa das verbas federais fosse administrada por deputados e senadores. O processo é permeável à corrupção, já que menos transparente, sem uma prestação de contas clara e menos planejado.

Também foram intimados pelo ministro para comparecer na audiência Paulo Gonet, procurador-geral da República; Bruno Dantas, presidente do TCU, e Jorge Messias, ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU).