O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o mercado de câmbio, a reação do mercado foi rápida, e o dólar comercial teve mais um dia de alta nesta terça-feira (2). Lula disse, em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador, na Bahia, que o governo precisa tomar alguma atitude para conter a elevação da moeda americana, que chegou a bater R$ 5,70 no início do dia.
Essa também não é a primeira vez que o chefe do Executivo brasileiro usou entrevistas para criticar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Lula disse que não dá para dirigir a autoridade monetária com “viés político”. O presidente também afirmou haver atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que discutirá o que fazer em relação à alta do dólar, e disse que o BC não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
Lula usou indicadores econômicos atuais para questionar a alta. "O PIB está crescendo mais que a previsão do mercado, desemprego caindo mais que a previsão do mercado, massa salarial crescendo mais, 87% dos acordos salariais estão com ganho real", argumentou.
Os comentários de Lula em relação ao BC somam-se às falas do presidente nos últimos dias, que vêm sendo apontadas como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e para que a curva de juros esteja em forte alta no Brasil. A moeda americana desacelerou os ganhos no fim da tarde de terça após rumores de que o BC estaria consultando Tesourarias de bancos sobre eventual intervenção no mercado de câmbio.
Haddad
Ventila-se que as falas de Lula preocupam o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele teme que as críticas do presidente influenciem na inflação de 2025 e 2026, último biênio do mandato, além de tornar mais difícil o trabalho do próximo presidente do Banco Central, que será indicado por Lula.
Além das críticas, o presidente também disse que irá ter uma reunião nesta quarta-feira (3) para tentar tomar alguma atitude sobre a alta da moeda. O encontro com a equipe econômica foi confirmada por Haddad que voltou a defender “ajuste na comunicação” como forma de fazer o dólar recuar.
“Autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal, é isso que vai tranquilizar as pessoas. É uma questão mais de comunicação do que qualquer outra coisa”, disse Haddad a jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda nesta terça.
Resposta
Ao participar do fórum do BCE (Banco Central Europeu) em Sintra, Portugal, o presidente do BC rebateu as críticas do presidente aos juros altos e citou a "polarização" como risco para a economia do país no futuro próximo. “Temos que separar a narrativa política e o trabalho técnico que devemos fazer. A história mostrará que o trabalho foi feito da melhor maneira com os dados que tínhamos à mão, da maneira mais técnica”, declarou.
O presidente da autarquia também reiterou que a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de manter a taxa básica Selic em 10,50% ao ano, foi unânime, com apoio de quatro indicados pelo atual governo, entendendo o que seria melhor para o país. O presidente do BC disse que a precificação do mercado mostra que o principal risco hoje está relacionado às contas públicas no país.
Campos Neto citou o histórico das decisões da autarquia para argumentar que seu trabalho é baseado em dados técnicos. “No último ano de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, no mesmo ano em que o atual presidente venceu as eleições, aumentamos os juros de 2% ao ano para 13,75% ao ano. Foi o maior aumento de juros em um ano de eleição nos mercados emergentes. Se isso não é prova de que somos independentes e agimos com autonomia, quero ver exemplo melhor”.
A principal crítica do presidente Lula é à autonomia do BC. O argumento do presidente é que o BC está mantendo a taxa básica de juros, Selic, em patamares altos sem necessidade. E que isso prejudica o crescimento do país, uma vez que fica mais caro captar dinheiro no sistema financeiro.