Por: Ana Paula Marques

Haddad pede calma, Lula acata e dólar cai para R$ 5,56

Haddad atuou como bombeiro da crise econômica | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O dólar finalmente operou em queda na quarta-feira (3). Mas isso só aconteceu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reunir-se com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe econômica. As informações são que o ministro foi incisivo ao dizer que as numerosas críticas do presidente ao Banco Central estavam levando a um real risco de comprometimento da economia. Ao final, diante da queda do dólar, Haddad disse: “Comunicação bem feita melhora tudo”.

O recado de Haddad foi explícito. Ainda que de forma respeitosa, as críticas de Haddad a Lula eram de que os ataques que ele fez nos últimos dias ao Banco Central não foram combinadas com o restante da sua equipe que cuida da economia. Se tivesse havido essa combinação, Haddad teria feito antes a recomendação de calma nos recados e dos riscos de se apontar para o fim da independência do Banco Central e acenar para uma possibilidade de redução da responsabilidade fiscal.

Diante do recado, Lula baixou o tom. Na apresentação do Plano Safra, de investimentos para a agricultura, o presidente disse: “A responsabilidade fiscal não é uma palavra, mas um compromisso do governo desde 2023”. Foi o suficiente para que a temperatura do mercado amainasse.

No final do dia, a moeda americana encerrou a sessão registrando a menor cotação desde a última quinta-feira (27): R$ 5,56. Na terça-feira (2), a moeda americana chegou a bater R$ 2,70. Mas não foi somente a trégua que resultou na depreciação do dólar. Tanto o presidente, quanto Haddad sinalizaram em direção para uma eventual contenção de despesas do governo. Além disso, a moeda americana também sofreu um movimento global de baixa.

Às 11h, o dólar caiu 1,35%, cotado a R$ 5,588, enquanto o Ibovespa subia 1%, aos 126.047 pontos. O peso da sinalização do governo ficou mais evidente no final da tarde, quando a moeda caiu 2.20% após a declaração do presidente no Plano Safra. A percepção é de que quanto menos o presidente abordar a questão do câmbio ou do trabalho do Banco Central, melhor para as cotações.

Na mesma linha e usando o mesmo tom ameno do presidente, Haddad afirmou à imprensa que o câmbio se acomodará e que “a diretoria do BC tem autonomia para atuar quando entender ser conveniente. Não existe outra orientação”, disse.

Críticas ao BC

Nas últimas semanas, Lula tem criticado duramente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e isso deixou o mercado instável e, assim, a cotação subiu. Na última terça-feira (2), por exemplo, a alta do dólar foi influenciada por novas declarações de Lula sobre o Banco Central. Em entrevista à rádio Sociedade da Bahia, o presidente afirmou que o Banco Central é uma instituição de Estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro, com isso o dólar chegou a bater R$ 5,70, maior valor desde do início do terceiro mandato do petista.

Na entrevista de terça, Lula também voltou a dizer que o presidente da autoridade monetária tem opiniões ideológicas. O presidente usou indicadores econômicos atuais para questionar as taxas mantidas pelo BC. "O PIB está crescendo mais que a previsão do mercado, desemprego caindo mais que a previsão do mercado, massa salarial crescendo mais, 87% dos acordos salariais estão com ganho real", argumentou.

Além disso, o chefe do Executivo brasileiro também afirmou haver atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que discutirá o que fazer em relação à alta do dólar.

Teste de chefia

No momento em que a crise amaina, haverá uma substituição temporária no comando do Banco Central. Roberto Campos Neto saiu de férias e escolheu como chefe interino da instituição o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, um dos nomes cotados para assumir a presidência do Banco quando o mandato de Campos Neto acabar em dezembro.

É também um gesto de pacificação. Galípolo foi indicado para o cargo por Lula; Ficará à frente do Banco Central até o dia 19 de julho. Apesar disso, Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), volta do período de férias antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por fixar a taxa básica de juros da economia brasileira, que atualmente está em 10,5% ao ano, um dos motivos das últimas críticas de Lula. Para ele, o atual cenário da economia brasileira, com inflação dentro da meta, permitiria uma taxa de juros menor.