No sábado passado (13), o mundo voltou ainda mais sua atenção para uma das disputas mais importante do mundo, a de presidente dos Estados Unidos da America. Donald Trump, ex-presidente, foi atingido de raspão na orelha por um tiro durante o comício republicano na Pensilvânia, enquanto mostrava um post com estatísticas sobre imigração. No Brasil, do Palácio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal (STF), autoridades reagiram ao atentado.
No mesmo dia em que ocorreu a tentativa de assassinato contra Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), repudiou o ato em suas redes sociais. “O atentado contra o ex-presidente Donald Trump deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política. O que vimos é inaceitável”, escreveu. Já na segunda-feira (15), Lula voltou a repudiar o atentado ao afirmar a jornalistas que o que aconteceu empobrece a democracia.
“Eu não sei se isso vai fortalecer alguém. Isso empobrece a democracia. Em vez de a gente ficar analisado se alguém ganha ou perde com isso, o que temos que ter certeza é que a democracia perde. Os valores do diálogo, os valores do argumento, de sentar em uma mesa de forma diplomática e buscar soluções para os problemas, vão indo pelo ralo”, disse o presidente, ao ser perguntado se o ataque fortalece a extrema-direta no mundo.
Democracia
O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também condenou o atentado. Em nota, ele afirmou que “atos extremistas e violentos vêm se repetindo mundo afora, não só na esfera política, e uma reflexão urgente sobre esse estado permanente de ódio se impõe. Ou ampliamos a busca pela convivência pacífica e democrática, ou veremos outras tragédias acontecerem”.
Sem citar diretamente o ataque, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que a “violência é sempre uma derrota do espírito”:
“A política, exercida com integridade e idealismo, é uma das mais nobres atividades humanas. A violência, independente da motivação, é sempre uma derrota do espírito. A vida civilizada é feita de ideias e não de agressões”, disse Barroso.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados também se manifestou sobre o assunto, ele postou no X (antigo twitter) que “divergências se resolvem no voto da maioria e na vontade do povo”. E continuou: “a Casa do povo e da democracia—Câmara —, repudia com veemência qualquer ato violento como o que atentou contra o candidato à presidência dos EUA, Donald Trump”.
Direita
Ao comentar sobre os tiros disparados contra o candidato, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que “atentados são sempre contra pessoas do bem e conservadores”. A frase contém imprecisões históricas. John Kennedy, assassinado em 1963, não era considerado um presidente conservador dos Estados Unidos. No Brasil, a vereadora Marielle Franco, do Psol, foi assassinada em 2018.
Bolsonaro ainda relacionou o episódio da facada durante sua primeira campanha presidencial ao atentado contra Trump. “Ele foi salvo, a meu entender, como eu fui. Os médicos dizem que foi milagre eu ter sobrevivido em 2018 tendo em vista a gravidade dos ferimentos. E ele foi salvo por questão de poucos centímetros. Isso, a meu entender, é algo que vem de cima”, disse. Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil logo após o atentado.
Esse é o mesmo argumento que políticos da direita brasileira usaram em 2018, e usam agora para falar do ex-presidente dos EUA. A disputa entre Trump e o Joe Biden, seu principal rival em 2020 e nas eleições desse ano, polariza o país, assim como aconteceu e acontece no Brasil desde que Bolsonaro se tornou o principal político da direita.
E no Brasil?
O atentado, segundo o internacionalista e especialista em comunicação politica, João Cândido, pode e irá respingar na política brasileira. Para ele, a proximidade e similaridade nos atentados contra Bolsonaro e Trump pode gerar reflexos nas estratégias políticas e no discurso de segurança entre os políticos conservadores brasileiros, “que irão com certeza reforçando a narrativa de perseguição política e vitimização”, explica.
Durante uma campanha, o tempo e dinheiro gastos com a mídia são extremamente importantes e um atentado como esse pode influenciar em uma eleição, defende o especialista. “Quando ocorre um atentado, o candidato recebe maior atenção da mídia, tanto dentro quanto fora de seus redutos eleitorais e uma possível reeleição de Trump poderia gerar tensões no relacionamento entre os Estados Unidos e o Brasil. Trump representa uma agenda conservadora e nacionalista que frequentemente entra em conflito com os valores progressistas e políticas de inclusão social promovidas pelo governo de Lula. Isso pode resultar em divergências sobre temas como políticas ambientais, direitos humanos e comércio internacional”, explica
Já o professor de Direito Internacional dos Direitos Humanos, membro permanente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Frederico Afonso defende que o atentado contra Trump já trouxe consequências imediatas à política brasileira. “Em uma política já alimentada pela polarização, pouco importa os atos positivos ou negativos. Por aqui, vemos os dois cenários, o lamento que o tiro não acertou a cabeça e o outro lado comemora o tiro como uma vitória. O cenário deve se polarizar ainda mais por aqui”, disse.