Por: Ana Paula Marques

Rivaldo Barbosa nega envolvimento com irmãos Brazão

Rivaldo depôs remotamente da penitenciária | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados ouviu nesta segunda-feira (15) o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, preso por suposto envolvimento nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Ao prestar depoimento à comissão, Rivaldo afirmou que nunca falou com os irmão Domingos e Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontados como mentores do crime.

O depoimento de Rivaldo faz parte do processo de cassação do mandato do deputado federal Chiquinho Brazão, acusado de quebra de decoro parlamentar pelas acusações de assassinato. Conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o apoio da vereadora à regularização de terras para pessoas de baixa renda foi determinante para colocá-la como alvo dos irmãos, uma vez que os terrenos estavam localizados em áreas de atuação de milícias.

Durante seu depoimento, além de negar seu envolvimento com os irmãos, Rivaldo definiu as milícias que atuam no Rio de Janeiro como “um câncer”.

“Nunca tive contato com essas pessoas, desde o dia em que nasci, eu nunca falei com nenhum irmão Brazão. Algo profissional, político, religioso ou de lazer. A milícia é um câncer que faz com que mortes aconteçam”, se defendeu.

Alegações

Rivaldo também alegou cooperar com as investigações e que só está preso por ter indicado um nome para investigar o caso Marielle. “Lutei por anos contra as milícias e hoje estou aqui, prestando depoimento, preso em uma penitenciária federal, mesmo tendo concedido as minhas senhas de celular e computador de boa vontade para que investigassem e vissem que nunca falei com os Brazão”, declarou.

Conforme as investigações, Rivaldo foi responsável por indicar o delegado Giniton Lages para a apuração do Caso Marielle na Polícia Civil do Rio de Janeiro. Giniton é acusado de atrapalhar o curso das investigações para proteger os mandantes do crime.

“Tudo o que fiz, enquanto chefe de polícia, foi indicar o delegado Lages, que conduziu as investigações sobre a morte da Marielle e chegou ao Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson. Giniton é um dos mais bem preparados para isto. Ele que pode responder melhor sobre detalhes da investigação”, disse o policial.

Rivaldo também disse que tinha bom contato com Marielle. “A vereadora sempre fazia contato comigo, ela trabalhava com o então deputado Marcelo Freixo, que presidia a Comissão de Direitos Humano da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Sempre que havia alguma ocorrência sobre morte nos falávamos e ela chegou a colaborar comigo em investigações sobre mortes no Complexo da Maré”, afirmou.

Ainda segundo o ex-chefe de polícia, qualquer vinculação sua com o caso trata-se de “mera invenção” de Ronnie Lessa. Foi a delação de Lessa que embasou a prisão dos réus dos caso. “Lessa foi preso por Giniton. Quem ele implica no caso? Eu, o delegado Rivaldo, que indicou Giniton para o caso, que causou a prisão dele. Está tentando desacreditar a investigação com isto, é uma tática recorrente das milícias”, garantiu.

Logo após Rivaldo, o vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro Willian Coelho (DC) prestou depoimento no caso. Ele defendeu que o processo em torno de Chiquinho Brazão precisa de mais informações para tentar envolver o deputado, já que não está convencido de que ele teria cometido o crime do qual é acusado. “Estou convencido e acredito que o ministro Alexandre de Morais, relator do Caso no STF, irá pedir mais complemento nessa investigação”, afirmou

Cassação

Chiquinho Brazão está preso desde março desde ano. Ele nega as acusações. Segundo o deputado, os debates que manteve com a vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro não podem ser utilizados como motivo para ligá-lo ao assassinato. Já o argumento da defesa de Brazão, é que os episódios relatados nas acusações são anteriores ao mandato de Brazão na Câmara, por isso ele não poderia perder o cargo na Casa.

O processo de cassação de Brazão foi apresentado pelo Psol Além de Rivaldo e Willian Coelho (DC-RJ), estavam marcados os depoimentos do vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Paulo Ramos (PDT), ex-deputado federal, e Carlos Alberto Lavrado Cupello, (Solidariedade), ex-vereador conhecido como Tio Carlos. Porém, essas oitivas ficarão para a próxima reunião da Comissão, convocada para esta terça-feira (16).