Por: Ana Paula Marques

Kamala Harris na corrida presidencial e seus efeitos no Brasil

Entrada de Kamala pode influir na disputa brasileira | Foto: Reuters/Folhapress

Após pressão dos democratas, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da America, desistiu de sua candidatura à reeleição. Agora, na corrida contra o candidato republicano, Donald Trump, está Kamala Harris, vice-presidente do país. Ela já recebeu o apoio do presidente dos EUA para a indicação, apesar de ainda não ter sido oficializada, mas sua possível candidatura é dada como certa. E ela já pode refletir no cenário político nacional.

Assim como aconteceu no Brasil na última eleição presidencial, os EUA seguem polarizados em dois nomes. Apesar de somente três pontos percentuais acima de Biden nas últimas pesquisas de intenção de votos do país, Trump já dava como ganha a presidência, principalmente, após o atentado que sofreu na última semana. De acordo com o levantamento RealClearPolitics, Trump tinha 47,7%, contra 44,7% de Biden. Agora, com a possível candidatura de Kamala as pesquisas apontam um cenário bastante acirrado, onde os dois empatam, ambos com 44%.

Por aqui, Trump tem mais proximidade política com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assim como o governo de Biden está mais próximo das políticas progressistas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o analista de política internacional da BMJ Consultores Associados Guilherme Gomes, o principal impacto das eleições americanas no Brasil será nas narrativas adotadas pelas esferas políticas na disputa para as prefeituras, que acontecem em outubro.

“O atentado a Trump, por exemplo, fortaleceu o discurso utilizado pela extrema-direita americana e replicado no Brasil, de perseguição a políticos deste espectro político. Esse discurso deverá ser reforçado em debates e durante o período de campanha, como maneira de associar a imagem de políticos locais à imagem do ex-presidente Trump”, explicou

Para ele, as críticas que serão feitas pelos Democratas nos Estados Unidos à extrema-direita, deverá ser internalizado no Brasil, por parte dos políticos de esquerda e de centro. “Aqui devem buscar associar o esforço do EUA a movimentos semelhantes nas disputas às prefeituras”.

Relações bilaterais

Já no caso de uma eventual vitória de Kamala Harris, os Estados Unidos passariam a ser governados por uma mulher negra. O que pode impulsionar carreiras semelhantes pelo mundo, inclusive no Brasil, ampliando políticas raciais e de gênero.

Como atual vice-presidente americana, ela tenta se posicionar como politicamente progressista, com destaque para o apoio a minorias étnicas e raciais. Para Guilherme Gomes, se eleita, “Kamala deve buscar reforçar a influência americana na América Latina, que tem sido gradualmente reduzida nas últimas décadas. Além de se manter próxima às pautas progressistas, que deve se alinhar com as pautas do presidente Lula”, explica.

Lula

Na segunda-feira (22), o presidente Lula comentou a decisão de Biden de desistir das eleições americanas. "Fiquei muito feliz quando o presidente Biden foi eleito e mais ainda pelos posicionamentos dele em defesa dos trabalhadores. Somente ele poderia decidir se iria ou não ser candidato”, disse Lula.

Lula também declarou que quer manter boas relações com quem ocupar a cadeira de presidente dos EUA nos próximos anos. “Que o melhor vença a eleição. A relação do Brasil será com quem for eleito. Temos uma parceria estratégica com os Estados Unidos e queremos mantê-la".

Lição

Para o professor de Direito Internacional dos Direitos Humanos, membro permanente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP Frederico Afonso, as eleições presidenciais norte-americanas são sempre uma lição, do quão é diferente do Brasil.


"Com a saída formal e oficial de Joe Biden, numa única tarde quase 30 milhões de dólares foram doados (ou arrecadados), mostrando a força de Kamala. A saída de Biden dará energia ao comitê, à campanha e às novas doações, impactando esse clima de "já ganhei" de Donald Trump. No âmbito nacional segue aquela cisão absurda, país dividido ao meio, de um lado, torcedores, não eleitores de Trump, do outro, de quem quer seja contrário ao Trump, atenuando a polarização", disse.

Coragem

Ao Correio da Manhã, o senador Fabiano Contarato (PT-ES), que compõe o Grupo Parlamentar Brasil e Estados Unidos, que tem a finalidade de incentivar e desenvolver as relações bilaterais entre os poderes Legislativos dos dois países, disse que a desistência de Biden é um gesto de coragem e que todos os esforço possíveis devem ser feitos para conter candidaturas de extremistas.

“Como bem definiu o presidente Lula, a relação do Brasil será com quem for eleito. Nosso país tem uma parceria estratégica e histórica com os Estados Unidos. Biden se desprendeu das próprias ambições em prol dos interesses da nação americana. Isso significa que todos os esforços são possíveis para evitar aqueles que só se limitam ao ódio e ao ressentimento”, declarou.