A paz do continente sul-americano é o principal fator em jogo na eleição que a Venezuela realizou neste domingo (28). Independentemente de quem vença, o que ainda não é conhecido, o que mais as autoridades brasileiras e dos demais países do continente mais desejam é que o resultado seja respeitado. Depois de ter falado na semana passada na possibilidade de um “banho de sangue” caso não vencesse a tentativa de reeleição, o presidente Nicolás Maduro tranquilizou seus vizinhos na manhã do domingo, ao garantir que o resultado, qualquer que seja, “será respeitado”.
Durante o dia, porém, o clima no país que faz fronteira ao Norte com o Brasil não foi dos mais tranquilos. A eleição presidencial na Venezuela enfrentou vários problemas de operação e segurança em diferentes estados do país. No estado de Táchira, os centros eleitorais apresentaram atrasos de até uma hora no início da votação. Além disso, foram relatados episódios de intimidação por grupos de homens encapuzados, que efetuaram disparos para o alto nas filas de eleitores. No município de Antonio Rómulo Costa, panfletos com mensagens intimidatórias foram espalhados perto dos centros de votação por indivíduos não identificados.
Em Andrés Bello, confrontos entre voluntários pró e contra o governo de Nicolás Maduro ocorreram nas imediações de um centro de votação. Fotos registraram a tentativa de militantes pró-governo de impedir a entrada de um voluntário de oposição no local para votação.
Outros incidentes foram registrados em diferentes regiões. Em Carabobo, eleitores tiveram dificuldades devido a mudanças nos locais de votação, causando confusão. No estado de Bolívar, especificamente em Ciudad Guyana, houve atraso na montagem das mesas de votação devido à ausência de membros designados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Durante o dia, um homem foi detido por tirar fotos de uma urna eleitoral. Segundo o comandante estratégico operacional da Força Armada Nacional Bolivariana, Domingo Hernández Lárez, o indivíduo estava portando dois comprovantes de voto no momento da prisão.
Controvérsias
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, se pronunciou sobre a eleição após votar, elogiando o desempenho das tropas na segurança do pleito. Ele abordou os desafios enfrentados devido aos embargos internacionais e destacou o caráter pacífico da eleição, conforme relatado pela emissora de televisão estatal.
“Em qualquer outro país nessas condições, não haveria eleições. Aqui, fizemos o contrário, estamos o Estado promovendo a eleição e o povo está indo de maneira cívica e democrática nos locais de votação”, declarou López.
Estima-se que cerca de 20 milhões de venezuelanos votaram no domingo. Ao contrário do Brasil, lá o voto não é obrigatório.
Pesquisas de boca de urna não são oficialmente permitidas. Mas, segundo o jornal espanhol El País, isso não permitiu que levantamentos extra-oficiais pululassem durante o dia, patrocinados tanto por governistas como por oposicionistas, e apresentando resultados variados.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, chegou mesmo a divulgar em suas redes sociais uma dessas pesquisas não oficiais. “Maduro vai vencer, e depois vão dizer que foi fraude”, chegou a dizer Morales, em uma entrevista à rádio Kawsachum Coca, do seu país. “Vencemos na Bolívia e depois inventaram uma fraude para convulsionar e levar a um golpe de Estado”.
Pesquisas
Esteja certo ou não Evo Morales, essa é a grande preocupação nos demais países. Que vencendo qualquer um dos lados, haja uma contestação que convulsione o país. Antes da eleição, Maduro já dissera aquela frase quanto á possibilidade de violência caso o vencedor não seja ele.
E, fora das bocas de urna, as pesquisas mais recentes antes do pleito de ontem apontavam para essa possibilidade. Pesquisa do Instituto Delphos divulgada na semana passada apontava vitória do candidato de oposição Edmundo González Urrutia teria 59,1% dos votos, enquanto Maduro aparecia com 24,6%.
Maduro está no comando da Venezuela desde o dia 5 de março de 2013. Na Venezuela, o mandato atualmente é de seis anos, sem limite de reeleição. Maduro manteve vivo no país o chavismo. Seu antecessor, Hugo Chávez, ficou no poder por 14 anos.
Brasil
Para o Brasil, uma situação de tranquilidade na Venezuela é fundamental para os planos de liderança que o país tem em relação ao continente. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende o retorno da Venezuela ao Mercosul, mas sabe que isso só se dará se houver dos demais países do bloco confiança de que a Venezuela respeita os princípios democráticos.
Adotando uma postura pragmática, o Brasil diplomaticamente não busca de parceiros necessariamente esse tipo de postura. Tanto que apoiou a entrada do Irã e de outros países do Oriente Médio que não prezam exatamente a democracia.
O problema, porém, é que uma convulsão na Venezuela traria instabilidade ao continente. Recentemente, Maduro já fez ensaios nesse sentido ao tentar anexar parte do território da Guiana, a região conhecida como Essequibo.
A previsão é de que o resultado da eleição venezuelana seja conhecido no final do domingo ou nesta segunda-feira (29).