Na Bolívia, Lula volta a defender integração da América do Sul

Presidente afirmou que 'desunião das forças democráticas' só serve à extrema-direita

Por Ana Paula Marques

Lula e o presidente da Bolívia, Luís Arce. O país ingressou no Mercosul

Ao cumprir agenda na Bolívia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a união entre os países da America do Sul e a volta da Venezuela ao Mercosul. Ao lado do presidente boliviano, Luis Arce, após reunião entre os dois, o petista disse, na terça-feira (9), que a integração é uma necessidade de sobrevivência dos países do continente.

Apesar de não citar nomes, a frase é considerada uma nova alfinetada no presidente da Argentina, Javier Milei, que deixou de participar da reunião da Cúpula do Mercosul que aconteceu na última segunda-feira (8) para ir a um encontro político da direita no Brasil no último final de semana. Lula também afirmou que a "desunião das forças democráticas" serve somente à extrema-direita.

“É preciso dar uma chance, no século 21, para que o Brasil, a Bolívia e outros países da América do Sul deixem de ser tratados como países em vias de desenvolvimento ou como países de Terceiro Mundo”, continuou Lula. “Nós queremos abrir o nosso continente para o mundo e queremos participar do desenvolvimento”. Para Lula “não existe saída individual para nenhum país da América do Sul”.

“Ou nós nos juntamos, formamos um bloco, tomamos decisões conjuntas e as executamos, ou vamos continuar mais um século como países em desenvolvimento”, concluiu Lula.

Relações comerciais

Lula e o presidente boliviano tiveram reunião fechada ainda na terça. A expectativa era de discutir investimentos da Petrobras no país e formas de baratear a importação de gás natural para empresas brasileiras. A segurança na área de fronteira é outro tema de interesse do governo brasileiro.

Também participou da reunião a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que discusou no Foro Empresarial Bolívia/Brasil, onde reafirmou o interesse da petroleira em investi na produção de gás no país vizinho. Na terça-feira (9), a Petrobras subiu os preços da gasolina e do gás de cozinha para as distribuidoras. O litro da gasolina subiu R$ 0,20, passando de R$ 2,81 para R$ 3,01. Já o preço médio do gás de cozinha de 13kg teve elevação de R$ 3,10, passando a custar R$ 34,70.

Venezuela

Na visita à Bolívia, o presidente também afirmou que espera o retorno da Venezuela ao Mercosul “muito rapidamente”. Em 2017, o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, fundadores do Mercosul, decidiram de forma unânime suspender a Venezuela do bloco por “ruptura da ordem democrática”. A suspensão da Venezuela foi aplicada, segundo comunicado da cúpula na época, em função das ações do governo de Nicolás Maduro. Hoje, o país busca sua reintegração.

Lula defendeu que “o bom funcionamento do Mercosul, que tem a satisfação de agora acolher a Bolívia como membro pleno, concorre para a prosperidade comum. Esperamos também poder receber logo e muito rapidamente de volta a Venezuela”, destacou. O presidente brasileiro também abordou as eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para 28 de julho.

“A normalização da vida politica venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul. Por isso, fazemos voto de que as eleições transcorram tranquilamente e que o resultado seja reconhecido por todos”, ressaltou.

Tentativas de golpe

Ainda durante o encontro com o presidente boliviano, o petista comparou a situação política da Bolívia e do Brasil e afirmou que, assim como ocorreu no Brasil, as instituições bolivianas tiveram de enfrentar uma tentativa de golpe e garantir a preservação da democracia. Lula lembrou a frustrada tentativa de golpe militar no país vizinho, em 26 de junho, quando setores das Forças Armadas bolivianas cercaram o palácio presidencial e tentaram depor o presidente.

O episódio foi comparado pelo presidente brasileiro aos ataques violentos ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional, em Brasília (DF), no dia 8 de janeiro de 2023, após somente uma semana depois de Lula assumir seu terceiro mandato.

“As instituições bolivianas mostraram o seu valor frente uma grave ameaça. Minha vinda simboliza mais que a retomada de uma relação de amizade. Ela representa também a comunhão dos dois países, cuja trajetória tem importantes paralelos. Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu. Tanto o Brasil, quanto a Bolívia foram tomados por uma onda de extremismo, não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismo”, defendeu.