Pacheco apresenta projeto para amortizar dívidas de estados

Senado vota reoneração gradual da folha para setores da economia

Por Gabriela Gallo

Pacheco negociou com governo projeto sobre as dívidas

Após uma semana de negociações, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) apresentou, na terça-feira (9), o Projeto de Lei Complementar (PLP) que institui o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), destinado a promover a revisão dos termos das dívidas dos Estados e do Distrito Federal com a União. Ainda não há uma data prevista para o texto ser avaliado no plenário da Casa, mas Pacheco pontuou que o objetivo é tentar votar a medida antes do recesso parlamentar, em 18 de julho.

“É um passo muito importante para o Brasil solucionar essa questão federativa porque, da forma como está, com um indexador de IPCA + 4% [de juros ao ano], sem permitir que os estados deem ativos como pagamento, exigindo adesão a regimes de recuperação fiscal completamente sem sustentabilidade, isso não é solução, isso é postergar o problema. O que nós estamos é dar uma solução efetiva”, reforçou Pacheco, em entrevista com a imprensa.

O texto prevê duas mudanças: os estados usarem ativos para abatimento de suas dívidas e mudanças no indexador que corrige a dívida. A previsão é que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Sendo, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), seja o relator do projeto no Senado.

Atualmente, a base de cálculo da dívida considera a variação mensal do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) + 4% de juros ao ano. Um pedido dos governadores dos principais estados endividados era reduzir a taxa de juros de 4% para 1%. No entanto, após negociações com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o projeto determina que parte desses 4% devem ser revertidos para investimentos no próprio estado.

Dessa forma, o texto determina que os estados podem usar seus ativos, incluindo a participação acionária em empresas, para amortizar o que devem. Serão reconhecidos ativos como “recebíveis, de um modo geral, créditos judiciais, participação acionária em empresas que podem ser 'federalizadas' em favor da União”. Além disso, também há a possibilidade de créditos inscritos em dívida ativa do estado poderem ser cedidos também para a União.

Após essa redução da dívida com o uso de ativos, o artigo 5º do PLP descreve que “o estado que realizar a redução em, no mínimo, 10% da dívida fará jus à taxa de juros de IPCA acrescido de 3% ao ano” e “o estado que realizar a redução em, no mínimo, 20% da dívida fará jus à taxa de juros de IPCA acrescido de 2% ao ano”.

O presidente do Senado negou que o governo irá perder recursos com essas alternativas, visto que “esses investimentos acabam se refletindo em prol da União”.

“São investimentos em estradas que facilitam a logística, em presídios que melhoram a segurança pública e, naturalmente, [investimentos que estimulam] o ambiente de desenvolvimento do estado e do Brasil. Não é dinheiro perdido. A União não está abrindo mão de receber e isso [os recursos] indo para as calendas”, pontuou Pacheco.

Desoneração

Além disso, nesta quarta-feira (10) o plenário do Senado Federal votará o Projeto de Lei nº 1.847/2024 que determina a reoneração gradual da folha de pagamento para os 17 principais setores da economia e municípios de 2025 a 2028. A proposta que será votada é uma negociação entre os poderes Executivos e Legislativo.

Pacheco adiantou que o regime de transição contará em 2024 com um acréscimo de arrecadação do governo federal que não envolverá aumento de tributos, a fim de atender a compensação imposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin. “As sugestões que nós demos são a regularização das multas no ‘Desenrola’ em agências reguladoras, repatriação de recursos internacionais e a regularização de ativos nacionais. Essas medidas podem perfeitamente fazer frente ao custo da desoneração, que é da ordem de R$18 bilhões em 2024”, afirmou.

Banco Central

Apesar de estar pautada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta quarta-feira, Rodrigo Pacheco disse que o Senado não deve correr na avaliação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 65/2023, que concede autonomia financeira e orçamentária ao Banco Central (BC), alterando o regime jurídico do órgão. Com ela, o BC deixará de ser uma estatal será transformado em uma empresa pública.

O texto é polêmico e, após uma série de pedidos, Pacheco declarou que a Casa irá ouvir três “sujeitos” para ampliar o debate sobre o tema: os servidores do Banco Central, os agentes regulados pelo Banco Central e o próprio governo federal.