Sem acordo, Pacheco adia desoneração

Senado e governo apresentarão petição ao STF para prorrogar prazo, que termina na sexta

Por Ana Paula Marques

Pacheco tentará ganhar mais tempo junto ao STF

Após entrar mais uma vez na pauta de votação do Senado Federal, o projeto de Lei (PL) que trata da reoneração gradativa da folha de pagamento dos 17 setores da economia foi novamente adiado. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou que, por não conseguir entrar em consenso com o governo sobre uma compensação da desoneração que continua vigente ainda este ano, irá pedir um novo prazo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para as negociações.

No final de 2023, o Congresso Nacional prorrogou a desoneração da folha dos setores por quatro anos. A isenção no pagamento da previdência desses setores iria até o ano passado. Aprovada a prorrogação da desoneração, o governo tentou derrubar os benefícios em vários momentos, mas o Congresso manteve. O governo, então, ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao mesmo tempo, negociou com o Congresso a edição de duas medidas provisórias que determinaram a reoneração gradual e que restringiram o uso de créditos tributários do PIS/Cofins para abatimento de outros tributos.

Na Suprema Corte, o ministro Cristiano Zanin determinou que a lei aprovada no Congresso fosse suspensa, pois não traria a previsão de compensação pela renúncia de receita, como é exigido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Zanin, no entanto, concedeu um prazo: manteve a desoneração da folha por 60 dias e estipulou que fosse achada uma compensação até o final dessa data. O prazo dado por Zanin expira na sexta-feira (19). Se governo e Congresso não chegarem a um acordo e aprovarem o projeto, a desoneração irá cair. É por isso que Pacheco está pedindo agora mais tempo.

Compensação

Os parlamentares resistem à proposta da equipe econômica do governo de compensar a desoneração fiscal para setores e municípios por meio de “gatilho” que permitiria o aumento da Contribuição Social sobre Lucro Líquido em até 1 ponto percentual por dois anos. Por outro lado, o governo entende que as propostas de medidas de compensação apresentadas pelo presidente do Senado não são suficientes para compensar a renúncia fiscal com a desoneração, e algumas delas de difícil cálculo do impacto na arrecadação.

Na sessão de terça-feira (16), Pacheco disse que o texto entra de novo na pauta da sessão desta quarta-feira (17), mas que somente para esperar uma decisão da Suprema Corte. A estratégia é: se ministro Zanin aceitar alongar o prazo, o projeto fica prorrogado até 30 de agosto, caso o ministro dê parecer negativo à petição, o projeto será votado sem um acordo.

“Considerando o recesso e o início dos trabalhos em 5 ou 6 de agosto, nós teríamos três semanas para poder amadurecer o projeto da desoneração e as fontes de compensação”, declarou Pacheco. Sem a prorrogação do prazo, a liminar de Zanin volta a ter eficácia plena nesta semana, o que obrigaria os 17 setores beneficiados a voltar a pagar impostos sobre a folha de pagamento de seus funcionários.

Arrecadação

Por se tratar de uma medida que diminui impostos, o governo busca uma maneira de compensar a perda de arrecadação para evitar mais cortes de gastos. Nesta terça-feira, a equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já avisou que um novo bloqueio de verbas no Orçamento deste ano, agora em julho, será inevitável para cumprir a meta fiscal de zerar o déficit público. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia que a decisão deve ser anunciada no próximo dia 22 e que o contingenciamento será de, no mínimo, R$ 10 bilhões.

Agora, o impasse que deve tomar conta das articulações é o tempo. Haddad já havia afirmado na quarta-feira (10) que o impacto da desoneração da folha de pagamento deve ser entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões em 2024, com previsão de redução no próximo ano. No mesmo dia, o ministro disse ser preciso uma aprovação antes do recesso parlamentar de meio de ano “até porque preciso disso para fechar o Orçamento”, disse.
Haddad também afirmou que caso não haja resolução para compensação da desoneração, seria cumprida a decisão do STF e retomada a cobrança dos impostos já neste ano.

Até o momento, o único acordo que existe entre governo e senadores é de que a folha de pagamento fica desonerada em 2024, mas que a partir do ano que vem, se iniciaria a reoneração gradual, tanto da folha dos 17 setores da economia como dos municípios até 156 mil habitantes.

Com a desoneração, as empresas beneficiadas podem substituir o recolhimento de 20% da contribuição sobre a folha de salários por alíquotas de 1% até 4,5% sobre a receita bruta, por isso, em 2025 a alíquota seria de 5% sobre a folha de pagamento; em 2026, 10%; em 2027, 15%; em 2028 seria de 20% sobre a folha de pagamento e fim da desoneração.