Caso Marielle: Chiquinho nega ter relação com milícias

Acusados de mandantes do assassinato de Marielle, os irmãos Brazão falam no Conselho de Ética

Por Ana Paula Marques

Chiquinho declarou inocência e disse ser "vítima, como Marielle"

Ao prestar depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) disse ser inocente e nega relação com milícias. Preso há mais de 100 dias, o deputado federal é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, por isso, ele responde a um processo disciplinar que poderá resultar em cassação de seu mandato na Casa.

Tanto ele, quanto seu irmão, Domingos Brazão, foram ouvidos na terça-feira (16) por videoconferência. Perguntado se a prisão dele envergonha a reputação da Câmara, ele disse que não. “Porque sou inocente”, declarou. “Somos, na verdade, vítimas, assim como, infelizmente, foi a vereadora”.

Em seu depoimento, Brazão disse que tinha uma excelente relação com Marielle, que eles se sentavam lado a lado, e que, além disso, ele apoiava as pautas em que ela acreditava. “Não sei se ela me via como um pai—tamanha boa relação. É saudável ter divergências, mas sempre me dei muito bem com a esquerda”, disse.

Perguntado se teria recebido apoio de grupos ligados à milícia ou ao tráfico no Rio de Janeiro para atuação política, o deputado negou. “Nunca pedi autorização para entrar em nenhuma comunidade. Acredito que, quando a população pode votar em quem defende os seus direitos e luta pelas melhorias, não é preciso apoio da milícia", defendeu.

Domingos

Em seu depoimento, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão negou também participação sua e do irmão no homicídio de Marielle Franco. Além de negar os envolvimentos, Domingos também negou conhecer os demais supostos envolvidos no crime, como o ex-policial militar Ronnie Lessa, a quem chamou de “psicopata”, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa.

O delegado prestou depoimento na última segunda-feira (15) e também negou conhecer os irmãos Brazão. Ao responder aos questionamentos da relatora, deputada federal Jack Rocha (PT-ES), Domingos negou ter envolvimento com milicianos e respondeu que isso é uma “falácia” da oposição. Durante seu depoimento, o deputado chegou a chorar. “Eu sequer conheci a vereadora. Não tenho disputa territorial com ninguém, nem política. Isso jamais ocorreu”, disse Domingos ao Conselho de Ética por videoconferência.

Em março de 2017, Domingos Brazão foi preso e afastado do cargo, acusado de corrupção e envolvimento com milícia. Em seu depoimento, ele se defendeu. “Eu sou conselheiro do estado do RJ, jamais recebi um miliciano no tribunal de contas, mas infelizmente reconheço que comunidades do Rio de Janeiro são dominadas pelo tráfico de drogas e pela milícia”.

Domingo também negou ter relações com o miliciano Marcus Vinicius Reis Santos, vulgo Fininho, apontado como elo entre ele e o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, que admitiu ter prestado falso testemunho sobre os mandantes da morte da vereadora, o que atrapalhou as investigações sobre o atentado. Domingos Brazão confirmou que conhecia o miliciano, mas que não tinha proximidade com ele. “Eu não tenho relação pessoal, nem soube da prisão dele”, disse.

Ao final de seu depoimento, Domingos voltou a defender sua inocência e a de seu irmão. “Somos inocentes. A minha família está sofrendo, os meus amigos estão sofrendo, estamos sendo vítimas. Espero que a verdade seja esclarecida e que esse marginal—Ronnie Lessa—nunca tenha outra oportunidade de cometer mais crimes. Estou passando por coisas que jamais imaginei passar”, declarou

Conselheiro

O primeiro a falar na sessão foi o ex-vereador da Câmara do Rio e conselheiro do Tribunal de Contas Municipal, Thiago Ribeiro. Ele negou que Marielle tivesse como uma das pautas no Parlamento a regularização fundiária. Essa seria a causa, segundo a Polícia Federal, para que os irmãos Brazão decidissem planejar a sua execução. Thiago disse lembrar que ela tinha relação com a pauta do debate racial e de gênero.

Além disso, o conselheiro também negou conhecimento de qualquer processo dentro do Tribunal de Contas Municipal a respeito de possível ligação dos irmãos Brazão e a atuação de milícias para a regularização fundiária.