Lula e Bolsonaro concentram-se em seus ninhos políticos

A estratégia de ambos é eleger maior número de candidatos no Sudeste nas eleições municipais

Por Ana Paula Marques

Lula e Bolsonaro buscam votos em seus berços eleitorais

Desde o primeiro semestre do ano, os políticos se preparam para as eleições municipais que acontecem em outubro. E a corrida para tentar eleger nomes, nas principais capitais do país, já começou para as figuras mais influentes da política brasileira: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Neste fim de semana, os dois voltaram suas atenções para os seus ninhos políticos, o Sudeste — região onde iniciaram suas vidas na política, e que concentram alguns dos maiores colégios eleitorais do país.

Na última quinta-feira (18), Bolsonaro esteve na praça Saens Peña, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde reforçou seu apoio ao pré-candidato a prefeito do PL na cidade, Alexandre Ramagem. Isso mesmo após as polêmicas que envolve a investigação da Polícia Federal sobre a chamada “Abin Paralela”. Apesar de ser natural do São Paulo, foi no Rio que Bolsonaro construiu sua carreira política, sendo eleito deputado federal pelo estado.

Já o pernambucano Lula, participou no sábado (20) da convenção que oficializou o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo, o candidato é uma das principais apostas da esquerda para a disputa eleitoral de 2024. Foi no estado paulistano que Lula começou seus primeiros atos políticos como sindicalista, depois sendo eleito como deputado federal, também por São Paulo. Lula também esteve em São Bernardo, berço do início da sua carreira política, de onde comandou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e as históricas greves de metalúrgicos do final dos anos 1980. Prestigiou o lançamento da candidatura do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), que disputará a prefeitura da cidade.

Quase a metade

Para o cientista político Guilherme Carvalhido, a região é importante não só por ser o berço eleitoral, mas também porque o Sudeste tem quase a metade – mais de 44% -- da população do Brasil. “Não só em termos de voto, há também uma força econômica muito significativa na região, principalmente São Paulo e Rio. Além disso, são esses estados que preparam os partidos para formar as estratégias eleitorais decisivas para se pensar em 2026, ano de disputa para a Presidência, já são eles que possuem grande número do eleitorado nacional”, explica.

Esses estados, em muitas vezes, são decisivos para se eleger um presidente. Apesar de na última eleição, o resultado, que vinha empatado, só foi consolidado após se validar os votos do Nordeste. Nos últimos 12 anos, o Sudeste foi a região do Brasil que mais ganhou população, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, um aumento de mais de 4,4 milhões de pessoas.

Bases

Além disso, segundo consultor de análise política da BMJ Consultores Associados Érico Oyama, é na região Sudeste que Lula e Bolsonaro buscam as bases eleitorais onde eles tiveram mais êxito em 2022 e onde são mais fortes enquanto cabos eleitorais.

“São Bernardo do Campo, em São Paulo, é onde nasceu o PT, por exemplo. Por isso, é importante para a sigla retomar a prefeitura que hoje está com o PSDB”.

Estratégias

Apesar de mirar a mesma região neste primeiro momento, as estratégias de Lula e Bolsonaro para eleger candidatos são diferentes. Segundo o cientista político e pesquisador de opinião pública João Felipe Marques, o ponto que mais chama a atenção para a atuação de Lula é a tentativa de se aproximar do eleitor cristão. “Em especial evangélico, tendo em vista o novo perfil do eleitor brasileiro. Em algumas falas recentes, o presidente expôs posicionamentos de base moral e com teor conservador. Apesar disso, ele e sua equipe têm um trabalho redobrado para evitar que isso gere um efeito negativo, reduzindo o apoio da população mais socialmente liberal que faz parte de sua base”, explica.

As eleições municipais tendem a apresentar uma proximidade ao cotidiano dos eleitores, podendo apresentar mais elementos moralizantes. Por isso, Bolsonaro, que já tem apoio desse grupo mais conservador, busca agora formar lideranças que sejam capazes de fortalecer a direita brasileira no cenário em que seu nome está inelegível. “Portanto, garantir a continuidade do sucesso da direita política no país é essencial para o ex-presidente”, explica o especialista.

Quem vence?

O cenário no embate político do país ainda é polarizado. Por isso, as duas figuras mais influentes da política nacional no momento ainda irão enfrentar desafios antes de cravar quem irá eleger mais nomes nas capitais — o que é considerado uma vitória. Os desafios para Lula, segundo Guilherme Carvalhido é que, apesar de ser presidente, Lula não está fortalecido. “Ele tem tido um governo complexo, complicado, sem maioria no Congresso Nacional e com percalços para conseguir seus objetivos. Também não está com a popularidade em alta. Vem mantendo um equilíbrio complicado, variando positivamente e negativamente”, explica.

Por outro lado, segundo o especialista, o chamado bolsonarismo também está com muitos problemas. “Há uma divisão dentro do espectro, de grupos que se tornaram neutros ou mesmo alguns fazendo acordo com Lula. Não é uma maioria, mas há uma divisão. E, acima de tudo, você vê Bolsonaro impregnado com uma série de acusações que vamos ver acontecendo justamente nas eleições deste ano. A grande pergunta é: em que medida essas acusações terão influência sobre a popularidade de Bolsonaro?”, disse.