Eleições venezuelanas: pleito é decisivo para a América Latina
Venezuelanos vão às urnas neste domingo para definir comando do país
Neste domingo (28) acontecem as eleições na Venezuela. O pleito é considerado por muitos como as eleições mais importantes do país desde que o líder Nicolás Maduro chegou ao poder, há mais de uma década. Contra Maduro, está Edmundo González Urrutia, que parece obter forte apoio da população, apesar de ser a terceira escolha da oposição depois que seus dois candidatos preferidos foram proibidos de concorrer.
As atenções estão voltadas para o país diante da liderança do atual presidente, Maduro. A Venezuela passou por um rápido colapso da sua democracia e quase oito milhões dos seus habitantes fugiram do país. A inflação disparou e o país sobre com escassez de alimentos. O fato é que o futuro da Venezuela pode ser decisivo para a América Latina como um todo, já que o país é dono das maiores reservas de petróleo do mundo.
É o que explica a advogada especialista em Direito Internacional e internacionalista Hannah Gomes. Para ela, a Venezuela e a sua estabilidade, ou a falta de uma estabilidade, preocupam toda a região latino-americana e o continente americano no todo. “As eleições que estão por vir devem promover uma transição pacífica ou trazer mudanças significativas para impactar essa estabilidade regional. Mas podem, principalmente, afetar países vizinhos em termos de segurança e economia, se for mantida ou se for prejudicada a atual política econômica e de planejamento interno”, disse.
Maduro no poder
Maduro, que assumiu o manto do movimento populista chavista após a morte do seu antecessor Hugo Chávez em 2013, procura o seu terceiro mandato consecutivo de seis anos no cargo. A sua última eleição foi amplamente boicotada pela oposição e considerada pela Organização dos Estados Americanos como uma “farsa”.
Hanna Gomes explica que a manutenção de Maduro no poder apresenta uma série de riscos e desafios. “A reeleição de Maduro pode significar a continuidade dessa política desastrosa, dificultando a recuperação econômica tanto do país em si como também da região da América Latina. Pode ainda intensificar a crise imigratória, o fluxo de refugiados, o que prejudica em reflexo todos os países periféricos, fronteiriços da Venezuela. Isso pode levar a desentendimentos diplomáticos, uma sobrecarga econômica e problemas de segurança”, explica
Mais de 7,7 milhões de migrantes e refugiados fugiram da Venezuela na última década, de acordo com a Plataforma de Coordenação Interinstitucional para Refugiados e Migrantes do país. Somente para o Brasil, vieram 510 mil venezuelanos, segundo dados do governo federal. Mundialmente, o Brasil é a quarta nação que mais acolhe venezuelanos, atrás apenas da Colômbia, Peru e Estados Unidos, respectivamente.
Brasil
A tensão entre Brasil e Venezuela só aumenta. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar assustado com a fala de Nicolás Maduro de que haveria um "banho de sangue" no país vizinho caso não vença as eleições. O presidente da Venezuela reagiu lançando dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, que se assemelham às que foram feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por aqui e pelo ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu na última quarta-feira (24) não enviar observadores para acompanhar a eleição presidencial da Venezuela, marcada para o fim de semana, também em respostas ao ataque ao pleito brasileiro.
Para o analista de Política Internacional da BMJ Consultores Associados Vito Villar, “essas tensões mostram que embora o presidente Lula já tenha tido aliança com o partido de Maduro, essa proximidade não é mais abrangente atualmente, além de demonstrar que a democracia deve ser mantida”.
Apesar das tensões, o Brasil, a princípio, mantém viagem do embaixador Celso Amorim como observador do pleito. Seu embarque era na sexta-feira (26). O Palácio do Planalto decidiu não fazer mais comentários até que ocorra a eleição no domingo.