Brasil adota cautela com Venezuela e reeleição de Maduro
Intenção do governo é se manifestar somente após a volta do seu observador, Celso Amorim
Após o resultado das eleições presidenciais deste domingo (28), a Venezuela amanheceu nesta segunda-feira (29) com uma série de protestos contra a vitória de Nicolás Maduro, que é presidente do país desde 2013. Como adiantado na última semana pelo Correio da Manhã, independentemente do resultado, a vitória do candidato eleito na corrida presidencial não seria aceita pacificamente pelo derrotado.
Representando o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), Nicolás Maduro ganhou a eleição com 51,20% dos votos contra 44,2% do ex-embaixador Edmundo González Urrutia, com 80% das urnas apuradas, segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. Caso Maduro permaneça no cargo até o fim do novo mandato de seis anos, ele terá ficado no poder por 17 anos, superando seu antecessor Hugo Chávez, que governou a Venezuela por 14 anos.
No entanto, a líder da oposição ao governo Maduro, María Corina Machado, afirmou que eles tiveram acesso a apenas 40% das atas das eleições presidenciais e que estas atas indicariam que o candidato da oposição venceu.
O governo Maduro é acusado de fraudar e não ser transparente quanto ao resultado eleitoral. Nesta segunda, a principal organização internacional que acompanhou as eleições na Venezuela, Centro Carter, determinou que o Conselho Nacional Eleitoral divulgue as atas das mesas de votação. “A nossa missão técnica, enviada à Venezuela a convite da CNE, tem como objectivo avaliar a
eleição presidencial de acordo com o quadro jurídico venezuelano, bem como as eleições regionais e acordos internacionais sobre eleições democráticas”, declarou publicamente Centro Carter por meio de nota.
Mundo
Enquanto países como China, Rússia e Catar já parabenizaram a eleição de Maduro, representantes dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) criticaram a condução eleitoral venezuelana e exigiram maior transparências nos votos. Dos países latino-americanos, somente Cuba, Colômbia e Bolívia parabenizaram Maduro. Assim, o Brasil optou pela cautela. Não rechaçou o resultado, mas também o confirmou prontamente.
O ex-chanceler brasileiro e assessor especial de Lula Celso Amorim, enviado pelo presidente brasileiro a Caracas para acompanhar o pleito na Venezuela, deve permanecer no país até esta terça-feira (30). A expectativa é que Lula se manifeste sobre Maduro apenas após conversar pessoalmente com Celso Amorim sobre o assunto.
Brasil
O Brasil enfrenta uma “saia justa” com as eleições venezuelanas. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio de nota, informou que aguarda a divulgação oficial dos dados desagregados por mesa de votação, “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. A embaixadora do Brasil em Caracas (capital venezuelana), Glivânia Maria de Oliveira, não compareceu à proclamação da vitória de Nicolás Maduro nta segunda-feira (29), por orientação do Itamaraty.
Apesar da boa relação diplomática de longa data entre os presidentes Nicolás Maduro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), recentes declarações do venezuelano não foram bem avaliadas na última semana por Lula. Há pouco menos de duas semanas, Maduro declarou em um comício que o país poderia enfrentar um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso ele não fosse reconduzido ao cargo. A fala não foi bem interpretada, inclusive pelo presidente brasileiro, que disse ter se assustado com a declaração de Maduro e reforçou que a decisão democrática que fosse tomada precisava ser respeitada. Maduro respondeu que os que se assustaram com a declaração “que tomem um chá de camomila".
Ao Correio da Manhã, o cientista político Kleber Carrilho pontuou que, “embora não seja surpreendente”, o resultado eleitoral na Venezuela é um reflexo de que “todas as instituições no país estão muito ‘invadidas’ pelo madurismo/chavismo”.
“Para o Brasil, é uma situação muito complexa, porque o Brasil quer ter uma liderança regional e não tem muita facilidade neste momento. Então, precisaria de uma ‘aliança’ com a Venezuela pelo poder econômico da produção de petróleo da Venezuela com suas reservas. E também, para Lula, seria concordar com uma das principais bandeiras do [ex-presidente] Bolsonaro, que era o ataque a Maduro. Para o presidente Lula. é algo muito complexo pela relação histórica dele com o regime venezuelano”, disse Carrilho.
Ele ainda completou que, em um possível enfraquecimento de Maduro, “os próprios militares e outras pessoas com poder na Venezuela poderiam abrir mão do presidente”.