PSDB acusa Lula de propaganda política indevida

Acusação vem de declaração em rede nacional do presidente prometendo responsabilidade fiscal

Por Gabriela Gallo

Lula fez pronunciamento na noite de domingo (28)

Em meio a diversas críticas ao governo sobre responsabilidade fiscal, o PSDB declarou na segunda-feira (29) que recorrerá à Justiça contra o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na noite deste domingo (28), Lula fez uma declaração em rede nacional de rádio e TV apresentando os resultados do governo neste mandato e se comprometendo a reforçar o compromisso com a responsabilidade fiscal. Sem citar nomes, o presidente disse que o governo teve que “buscar recursos para cobrir o rombo bilionário deixado pelo governo anterior”.

“Não abrirei mão da responsabilidade fiscal. Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho. É essa responsabilidade que está nos permitindo ajudar a população do Rio Grande do Sul com recursos federais. Aprovamos uma reforma tributária que vai descomplicar a economia e reduzir o preço dos alimentos e produtos essenciais, inclusive a carne”, declarou Lula em pronunciamento.

O PSDB acusa Lula de usar o espaço público para fazer propaganda eleitoral. "O presidente usou desse expediente para fazer propaganda da divisão do país da qual ele é um dos protagonistas e espalhar dados eleitoreiros para subsidiar o discurso de seus candidatos a prefeito e vereador neste ano", manifestou o PSDB, por meio de nota assinada pelo presidente do partido, Marconi Perillo.

Na avaliação do partido, os dados apresentados não eram “relevantes” para justificar um pronunciamento à nação. "Por não ser justificável, o PSDB irá à Justiça contra o governo federal por uso indevido da convocação da rede nacional de rádio e TV", acrescentou.

Selic

Em meio a atritos entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a declaração do presidente sobre responsabilidade fiscal ocorreu na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. O conselho irá se reunir nesta terça-feira (30) e quarta-feira (31) para definir a Selic, a taxa básica de juros. A expectativa é que o Copom mantenha a Selic em 10,5% ao ano. Caso seja confirmado, a avaliação de instituições financeiras é que novos cortes serão feitos somente a partir de março de 2025.

Mas, mesmo que Banco Central mantenha a taxa Selic, a expectativa é que a instituição monetária endureça o tom com o governo federal. Na avaliação do mercado, cresce a projeção de que o BC se verá obrigado a endurecer a retórica, tendo em vista a valorização expressiva do dólar desde junho. Além disso, também será levada em consideração a piora nas expectativas para o IPCA (Índice de preços ao consumidor), que devem afastar ainda mais as projeções de inflação do colegiado para este ano e para 2025 do centro da meta oficial, de 3%.

Em entrevista à agência Reuters, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, reforçou que as chances de corte de juros nesta semana pelo BC são muito baixas, considerando que o conjunto de incertezas que fez o Banco Central interromper o ciclo de afrouxamento monetário ainda existe.

O embate mais forte de Lula com o Banco Central deu-se no início no mês passado, quando o Copom, na reunião de 19 de junho, interrompeu o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto de 2023. Em oposição às pressões de Lula, a decisão foi unânime entre os diretores do BC, que alegaram estarem agindo de forma técnica.

Nesse embate, o presidente Lula segue pressionado para não gastar, mas vê novas dificuldades de ver o país crescer pela pressão dos juros, com a não redução das taxas de juros, reprimindo o crédito e investimentos. A declaração do presidente sobre o compromisso com a responsabilidade fiscal também aconteceu dias após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar um bloqueio de R$ 11,2 bilhões e um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento de 2024, para cumprir a regra de gastos prevista no arcabouço fiscal.