Governo retoma a cautela sobre eleições venezuelanas

Maduro diz que oposição vai causar guerra civil, mas continua sem divulgar atas de votação

Por Gabriela Gallo

Padilha justificou posição brasileira sobre Venezuela

Em meio às polêmicas quanto ao resultado das eleições na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro concedeu, nesta quarta-feira (31), uma declaração acerca dos protestos que seguem no país. Maduro, que vem sendo acusado de fraudar o resultado presidencial para ser reeleito novamente, afirma que a oposição ao seu governo e a imprensa internacional está movimentando uma guerra civil no país. Ele não falou sobre as atas presidenciais, boletins que registram os votos em cada urna, tampouco quando estas serão divulgadas. Ele vetou perguntas dos jornalistas.

Em sua declaração, Maduro ainda classificou os manifestantes como criminosos e classificou a líder da oposição María Corina Machado como uma terrorista. Até o momento, foram contabilizadas 13 mortes em decorrência dos protestos que seguem no país (sendo 12 de civis e uma de um militar) e 17 desaparecidos, segundo Dados da Pesquisa Nacional de Hospitais (ENH) da Venezuela.

No último domingo (28), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou que Nicolás Maduro foi reeleito no país com 51,20% de votos contra 44,2% de votos para seu adversário, o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. No entanto, a oposição acusa Maduro de fraudar o resultado final, argumentando que as atas divulgadas (sendo apenas 40% do total), indicavam a vitória do candidato da oposição.

O atual presidente venezuelano vem sendo pressionado a liberar os boletins e trazer transparência ao resultado da corrida eleitoral, o que ainda não foi o caso. Ainda na quarta-feira, o Centro Carter, órgão internacional vinculado aos Estados Unidos, que foi um dos principais observadores internacionais da eleição, publicou um comunicado alegando que não foram verificados os resultados proclamados pelo Conselho Eleitoral Nacional do país. “O fato de a autoridade eleitoral não ter anunciado os resultados discriminados por mesa eleitoral constitui uma grave violação dos princípios eleitorais”, afirmou o documento.

Brasil

Parceiro político e econômico da Venezuela, o goveno federal brasileiro vem sendo pressionado para tomar um posicionamento acerca do caso. O ministro de Relações Instituicionais, Alexandre Padilha, declarou que o país busca relações pacíficas entre seus vizinhos latino-americanos. A declaração do ministro diz respeito a uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na terça-feira (30) que, após uma conversa por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cobrou a divulgação das atas, mas sem pressionar Maduro. Antes de falar com Biden, Lula dissera, em uma entrevista, que “nada de anormal” tinha acontecido na Venezuela.

“O que a gente quer, num país como a Venezuela e todos os nossos vizinhos, é que eles estejam em paz, sem conflitos. Se forem bem na economia, se estiverem bem na situação de pacificação, quem mais ganha é o Brasil. Porque o Brasil mais vende do que compra para esses países vizinhos da América do Sul. O presidente Lula falou o seguinte: ‘Eu só vou me pronunciar sobre o resultado das eleições quando houver ata’. Você tem uma ata. O Brasil tem tido essa postura desde o começo. Não se precipitou em fazer qualquer manifestação de um lado ou de outro, pelo contrário, tem uma postura firme, inclusive junto com outros países, como México e Colômbia. O próprio diálogo com o presidente Biden foi nesse sentido”, disse Padilha.

Em entrevista ao site Metrópoles também na quarta-feira (31), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destoou do presidente Lula e classificou a situação da Venezuela como uma ditadura, alegando que “um regime democrático pressupõe eleições livres”.

“Na minha opinião pessoal, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano. Quando se trata de política externa, o governo está correto em buscar as cautelas necessárias. Mas a cobrança foi veemente. O fato de fazer essa cobrança é uma forma de colaborar com o fortalecimento da democracia no nosso continente, e de que a gente não tenha nenhum tipo de atitude que venha extrapolar esse princípio”, destacou a ministra.