Lula aponta descuido com Pantanal, que vive grande ameaça

Presidente fez sua primeira visita à região para ver de perto a seca que atinge o bioma

Por Da Redação

Lula viu de perto focos de incêndio no Pantanal

Em sua primeira viagem ao Pantanal desde o início do atual período de seca, considerado pelo governo como o mais severo em 70 anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoou as áreas atingidas por incêndios na região de Corumbá (MS), que ficam próximas à fronteira do país com a Bolívia, na quarta-feira (31).

Ciom 4.553 focos de calor, o município é responsável por dois terços (67,3%) do total registrado no período neste ano no Pantanal, segundo boletim divulgado na terça-feira (30) pelo Ministério do Meio Ambiente.

“Um país que tem um território como o Pantanal, e a gente não cuida disso”, lamentou Lula. “Este país não merece o Pantanal, que é um território da humanidade. Pela diversidade de coisas que tem aqui”, disse o presidente, após visita às instalações do corpo de brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) PrevFogo e da Defesa Civil no estado.

“Fiquei emocionado hoje, em cima do helicóptero, vendo o foto pegando e os brigadistas tentando apagá-lo. E vendo o trabalho unitário que está sendo feito entre todos os entes federados”, afirmou Lula.

Ação humana

A visita do presidente foi acompanhada de uma comitiva ministerial, que incluiu a chefe da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela também deu destaque à força-tarefa para o combate a incêndios, mas voltou a ressaltar que a maioria deles é causada pela ação humana.

“Eu faço um apelo: se não parar de colocar fogo, não tem quantidade de pessoas e equipamento que o vença”, afirmou Marina Silva. “Vivemos uma combinação terrível, com mudança no clima, desmatamento e incêndios”, completou.

Incêndios

Dos 82 incêndios da temporada, o governo diz que 45 já foram extintos e 37 estão ativos, sendo que 20 desses estão controlados (quando o fogo está cercado por uma linha de controle).

No sistema Pantanal em Alerta, iniciativa dos bombeiros em conjunto com o Ministério Público do Mato Grosso do Sul, havia nesta quarta 873 focos de calor – que são monitorados para o controle precoce de incêndios.

De janeiro ao início de junho de 2024, os focos no bioma aumentaram 97,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Os dados são do Programa de BDQueimadas, do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O valor acumulado neste ano, até o começo de junho, é o segundo maior dos últimos 15 anos, atrás apenas de 2020, quando foram registrados 2.135 focos. Naquele ano, cerca de 30% do bioma foi consumido pelas chamas.

Medida provisória

O governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), agradeceu pela medida provisória editada pelo governo, que liberou R$ 137 milhões para o combate ao fogo no Pantanal.

“Nós temos 12 milhões de hectates no Pantanal sul-mato-grossense. Em 2020, foram queimados 3,5 milhões de hectares. Neste ano, estamos chegando perto de um milhão de hectares”, disse o governador.

“Não fossem esses recursos e a intervenção dos brigadistas, no combate direto ao fogo, estaríamos caminhando para um desastre pior do que do ano de 2020”, afirmou Riedel.

No local, o presidente Lula também sancionou a lei que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.

O texto é tido como fundamental por quem atua na área, porque muda a lógica do combate ao fogo, ao criar um arcabouço legal que, sem descartar os meios de combate a incêndio, passa a priorizar o trabalho preventivo e de cuidado com o fogo.

Entre outros instrumentos, seria impossível usar criteriosamente, por exemplo, as chamadas queimas prescritas, para eliminar matéria orgânica acumulada e evitar que o fogo se alastre. (Viviane Amorim e Artur Búrigo/Folhapress)