Os presidentes do Brasil, do México e da Colômbia divulgaram, nesta quinta-feira (1), uma nota conjunta em que pedem divulgação de atas e verificação imparcial dos resultados da eleição na Venezuela.
"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados. As controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirigidas pela via institucional", afirmou.
A divulgação do texto ocorreu após ligação telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gustavo Petro da Colômbia e Andrés Manuel López Obrador.
No texto, eles pedem ainda "máxima cautela e contenção" para evitar "escalada de episódios violentos" no país, em que mais de mil já sofram presos e ao menos 11 morreram.
"Manter a paz social e proteger vidas humanas devem ser as preocupações prioritárias neste momento", diz.
Os três líderes adotaram tons diferentes ao comentar a situação, mas compartilham a posição de não reconhecer o resultado da eleição e demandar a apresentação das atas eleitorais, documentos que garantem a lisura do processo eleitoral ao permitir o cruzamento do número total de votos computados com a quantidade de votos para cada candidato.
A vitória de Nicolás Maduro foi declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano (CNE). O órgão afirmou que, com 80% das urnas apuradas, o ditador teria obtido 51,2% votos, enquanto o opositor Edmundo González 44,2%.
A principal coalizão opositora diz, porém, que teve acesso a um percentual significativo das atas e que elas dão vitória a González. Há ainda levantamentos diferentes, feitos com base em amostragens, que também apontam vitória do opositor.
A justificativa do regime para a não publicação das atas é um suposto ataque hacker ao sistema do CNE.
Mais cedo, Obrador já tinha mencionado a possibilidade da conversa. Na ocasião, ele também criticou a postura da OEA (Organização dos Estados Americanos), que questionou o resultado eleitoral venezuelano em uma reunião de emergência na véspera.
"Nós atuamos com prudência para não nos intrometermos em um assunto que pertence, fundamentalmente, aos venezuelanos. Por isso, nos posicionamos de modo que, primeiro, não haja violência. Segundo, a vontade dos venezuelanos seja respeitada. Terceiro, que sejam apresentadas as provas, as atas, do resultado eleitoral. Quarto, que não haja ingerência", disse.
"O que aconteceu, lamentavelmente, com o secretário-geral da OEA", prosseguiu, referindo-se a Luis Almagro. Figura polêmica na política da América Latina, o uruguaio afirmou que pediria a prisão de Maduro ao TPI (Tribunal Penal Internacional), após uma reunião extraordinária do organismo multilateral nesta quarta (31).
Ocorridas no fim de semana, as eleições na Venezuela têm trazido desgastes ao governo Lula. Adversários do petista vinham explorando a proximidade histórica de Lula com o chavismo. Mas a divulgação da nota do PT afirmando que o processo eleitoral venezuelano foi democrático e soberano, e a declaração de Lula de que não via "nada de anormal" alimentaram críticas até mesmo entre aliados.
O desconforto aumentou ainda mais diante da denúncia do Carter Center, um dos poucos observadores independentes que tiveram permissão para acompanhar a votação, de que a eleição não pode ser considerada democrática, uma vez que o regime persegue opositores.