Por: Gabriela Gallo

Diplomacia tem boa postura sobre Venezuela, aponta especialista

Depois dos tropeços iniciais, Itamaraty assume crise venezuelana | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Segue a crise na Venezuela a partir dos resultados das eleições, com impactos diretos na política interna e na diplomacia brasileira. Na sexta-feira (2), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, confirmou a reeleição do atual presidente Nicolás Maduro. Segundo o órgão eleitoral do país, com 96,87% das urnas apuradas, o candidato representando o Partido Socialista Unido da Venezuela obteve 51,95% dos votos contra 43,18% de seu adversário Edmundo González Urrutia, representando o partido da oposição Plataforma Unitária Democrática. No entanto, a CNE ainda não divulgou as atas da eleição, que são boletins que registram os votos em cada urna. Portanto, a credibilidade quanto à eleição de Maduro é questionada.

A não divulgação das atas eleitorais venezuelanas vem descredibilizando os anúncios da CNE, que é comandado pelo governo, acerca da vitória de Maduro. A oposição acusa o governo de fraude nas urnas, alegando que as atas as quais eles tiveram acesso apontavam a vitória do candidato da oposição. Seguem no país uma série de protestos, que até o momento contabilizam ao menos 11 mortos e mais de 1.200 presos.

Embaixadas

Em meio à crise, a diplomacia brasileira assumirá temporariamente as embaixadas da Argentina e do Peru localizadas em Caracas, capital da Venezuela. O Brasil cuidará da representação diplomática das embaixadas, além de garantir os cuidados dos prédios e, principalmente, dos asilados venezuelanos que hoje lá estão refugiados. .

A Argentina e o Peru estão entre os sete países que tiveram seus diplomatas expulsos da Venezuela, já que estes se recusaram a reconhecer o resultado das eleições venezuelanas.

O governo brasileiro confirmou que mantém tratativas avançadas com a Argentina para a guarda das instalações diplomáticas do país vizinho em solo venezuelano, o que inclui a segurança dos opositores venezuelanos refugiados na embaixada argentina. Quanto ao Peru, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) afirma que estão em estágio inicial as negociações para que o Brasil se responsabilize temporariamente pela embaixada do país.
O Consultor de Comércio Internacional da BMJ Associados Danilo Josaphat, avaliou como positiva a postura da diplomacia brasileira em oferecer abrigo aos asilados na Venezuelana. “O grande impacto é aumentar a responsabilidade brasileira porque o país tem se colocado no centro da discussão”, disse.

Impactos

Desde que começaram os questionamentos acerca das eleições na Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sendo pressionado para se manifestar sobre o assunto. Após uma nota polêmica do Partido dos Trabalhadores – que parabenizava a reeleição de Maduro e celebrava a democracia – e uma declaração de Lula alegando que “não viu nada demais” na situação do país vizinho, o presidente recuou e vem evitando se posicionar publicamente.

Questionado pela reportagem do motivo do Brasil não romper relações com a Venezuela, Josaphat explicou que o princípio da política externa brasileira, com breves períodos de ruptura, “é agir tentando institucionalizar as disputas e agir como facilitador da solução de controvérsias, especialmente na região, considerando os interesses estratégicos de manter a estabilidade nas redondezas”.

Na noite de quinta-feira (1), os governos do Brasil, da Colômbia e do México divulgaram uma nota compartilhada sobre a situação da Venezuela. Apesar das diferenças de tom, os três países concordaram em não reconhecer o resultado das eleições venezuelanas até que as atas eleitorais sejam divulgadas. “A nota da trinca de países transparece [a estratégia da diplomacia brasileira] privilegia menções à soberania e ao povo venezuelano e contorna qualquer menção ao governo venezuelano”, pontua o internacionalista.

Ele ainda destacou que “há um histórico de laços políticos entre o atual governo brasileiro e o governo venezuelano”. A Venezuela tem uma das maiores fronteiras com o Brasil, além de ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo. O país ainda é importante na construção do eixo Sul que o Brasil vem ajudando a organizar, fora a dívida de mais de R$ 12 bilhões que tem com o Brasil.

Por outro lado, o Consultor de Comércio Internacional reiterou que reconhecer a vitória de Maduro “nessas condições prejudicaria o prestígio internacional brasileiro, e colocaria o país em oposição à maior parte da comunidade internacional e aos princípios de democracia que costuma defender”.

“A política externa brasileira recomenda o diálogo com ambas as partes de uma controvérsia, inclusive com a oposição venezuelano, pensando sempre o longo prazo e considerando que as condições políticas de uma crise podem eventualmente mudar. É com base na esperança de uma mudança interna na Venezuela que o Brasil tem agido”, completou.