Por: Karoline Cavalcante

Depoimento de assessor deixa Moraes em saia justa

Tagliaferro quando era assessor de Moraes | Foto: Reprodução Instagram

O ex-perito criminal Eduardo Tagliaferro, que foi assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prestou depoimento à Polícia Federal na quinta-feira (22), sobre o suposto vazamento de conversas entre membros do gabinete do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o pleito eleitoral de 2022.

Tagliaferro estava na chefia da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE na época da troca de mensagens, quando Moraes estava na presidência da Corte. O ex-perito foi afastado do cargo imediatamente após sua prisão, ocorrida em 2023, sob acusações de violência doméstica e disparo de arma de fogo.

Após a detenção, o celular foi apreendido e lacrado pela Polícia Civil de São Paulo. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o iPhone 14 tinha dois chips, sendo uma linha de São Paulo e outra de Brasília, que também foram entregues e lacrados. O aparelho foi levado à delegacia por Celso Luiz de Oliveira, ex-cunhado dele.

Ocorre, porém, que supostamente conversas de WhatsApp que estavam nos arquivos do celular vazaram. E foram a base da reportagem da Folha que afirma que Moraes teria feito pedidos fora do rito formal para embasar investigações contra bolsonaristas que são alvos do inquérito dos atos antidemocráticos, do qual ele é relator.

"Comparece nesta unidade policial o declarante supra qualificado [Oliveira], acompanhado da testemunha, informando que é cunhado do sr. Eduardo de Oliveira Tagliaferro, e que neste momento apresenta o telefone celular acima descrito, ora apreendido em auto próprio, aparelho este que recebeu das mãos de Eduardo pouco antes de ele ser encaminhado para audiência de custódia em Jundiaí", diz o BO.

“Tudo bem”

A oitiva desta quinta-feira foi realizada na sede da PF em São Paulo e estava marcada para às 11h. Segundo a defesa do investigado, “tudo correu bem”.

“Ficou claro que ele não tem relação com o vazamento”, informou o advogado Eduardo Kuntz ao Correio da Manhã. Além do ex-assessor, a ex-mulher e o ex-cunhado dele também foram ouvidos.

A investigação foi instaurada sob sigilo, depois da divulgação dos trechos de mensagens e revelou que integrantes do gabinete de Moraes teriam ordenado, de maneira informal, a elaboração de relatórios do TSE para embasar as investigações de Moraes no STF. Esses relatórios seriam usados para fundamentar decisões tomadas pelo ministro em processos que envolviam aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no inquérito das Fake News. A divulgação dessas informações provocou uma investigação para averiguar possíveis irregularidades e a influência indevida nas ações judiciais relacionadas ao caso.

Entre os diálogos divulgados entre Eduardo e o juiz instrutor do gabinete de Moraes no TSE, Airton Vieira, há pedidos fora do rito, como na transcrição do áudio enviado por Vieira:

“Boa noite Eduardo, tudo bem? Seguinte, conversando com a Cristina, ela pediu que a partir desse relatório e desse em diante, onde você coloca ‘Supremo Tribunal Federal’, coloque, por favor, ‘Tribunal Superior Eleitoral’. O número do processo nunca ficar em aberto. Colocar, no caso desse e dos próximos, a não ser que tenha alguma outra contraindicação, o 4781. E colocar como de ordem do doutor Marco Antônio. Porque atualmente o ministro passa por uma fase difícil e qualquer detalhe, qualquer peninha, pode virar amanhã ou depois mais um objeto de dor de cabeça pra ele. Então, ficaria para todos os fins que é de ordem do doutor Marco, que ele manda enviar para a gente e aí tudo bem. Ninguém vai poder questionar nada etc., ou falar ‘de onde surgiu isso?’, “caiu do céu?’, ‘a pedido de quem?’ etc.. E colocar em cima, repito, ‘Tribunal Superior Eleitoral’, e como nesse processo que você já mandou, 4781, de ordem do doutor Marco Antônio Martin Vargas, e o cargo dele no TSE. Por favor, e eu aguardo a outra via. Muito obrigado”, pediu o juiz instrutor.

Durante a sessão Plenária do STF do dia 14 de agosto, Moraes afirmou não demonstrar preocupação com as notícias divulgadas. “Nenhuma das matérias preocupa meu gabinete, me preocupa a lisura dos procedimentos. Todos os procedimentos foram realizados no âmbito de inquéritos já existentes ", iniciou o ministro. “E, obviamente, seria esquizofrênico eu, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, me auto oficiar”, finalizou.