Lula só fala com Maduro ao lado de Colômbia e México

Em entrevista, Celso Amorim diz temer guerra civil

Por Gabriela Gallo

Lula pisa em ovos para não agravar crise venezuelana

Por Gabriela Gallo

Após mais de uma semana desde as eleições presidenciais na Venezuela em 28 de julho, as atas eleitorais (boletins que registram os votos em cada urna) ainda não foram divulgadas.

Diante disso, seguem os protestos da oposição no país, que acusam o atual presidente Nicolás Maduro de fraudar o processo eleitoral para ser reeleito.

Há uma grave crise no país vizinho. Sem divulgar as atas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou a vitória de Maduro. De posse de dados diferentes que foram coletados durante a votação, o candidato de posição, Edmundo González, também se proclamou vencedor. Países se dividem sobre quem apoiar.

Nesta quarta-feira (7), o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim, declarou que teme que a crise no país vizinho possa terminar em uma guerra civil. A declaração foi feita em entrevista à GloboNews.

"Eu temo muito que possa haver um conflito muito grave. Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito. E eu acho que a gente tem que trabalhar para que haja um entendimento. Isso exige conciliação. E conciliação exige flexibilidade de todos os lados", afirmou Celso Amorim, que esteve na Venezuela antes e dias após as eleições venezuelanas.

Ele ainda julgou como "lamentável" as atas ainda não terem sido divulgadas e comentou que disse isso ao próprio Maduro.

"Eu estive com ele [Nicolás Maduro] no dia seguinte da eleição e perguntei sobre as atas. Ele me disse que seriam publicadas. Depois encontraram esse caminho pela Justiça. Eu tenho que confessar a minha ignorância, não compreendo bem ainda o que a Justiça vai fazer", disse.

Lula

Circula a expectativa do presidente Lula conversar por telefone com Nicolás Maduro, com quem nutre um histórico de relação amigável, sobre as eleições venezuelanas. Todavia, ele só deve de fato conversar com o colega presidente do país vizinho se na conversa estiver acompanhado dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andrés López Obrador.

Na última semana, os três países divulgaram uma nota conjunta alegando que não reconheceriam os resultados das eleições na Venezuela até que as atas fossem divulgadas. Apesar dos diferentes tons entre os países na nota, os três presidentes optaram por não se posicionarem sobre o resultado na intenção de não cortarem relações com a Venezuela, mas sem reconhecer as eleições do país vizinho - estratégia que vem sendo adotava pela diplomacia brasileira.

O governo brasileiro vem pisando em ovos e buscando ao máximo um jogo de cintura para tentar se distanciar da Venezuela, mas sem cortar suas relações político-econômicas.

Vídeo

A crise no país vizinho vem sendo alvo da oposição para criticar o governo. A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou uma notificação extrajudicial para que as empresas X (antigo twitter), Instagram e Meta retirem um vídeo que mostra Celso Amorim e Nicolás Maduro se abraçando. O vídeo foi divulgado por influenciadores de oposição, e é fake, foi feito com uso de inteligência artificial.

Segundo a AGU, o vídeo distorce a posição do governo brasileiro perante a crise política venezuelana. No vídeo original, Celso Amorim e Maduro conversam, mas o uso da inteligência artificial os mostra se abraçando, na tentativa de forçar uma aproximação que não ocorreu.

Movimentos

Nesta quarta-feira (7), movimentos populares ligados à esquerda emitiram uma nota apoiando o posicionamento do presidente Lula perante a crise na Venezuela.

A nota, assinada pelos movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Levante Popular da Juventude e outros alega que a extrema direita venezuelana promoveu uma "onda sistemática da violência" para desestabilizar o país em meio ao processo eleitoral.

Eles ainda dizem estar torcendo "para que a situação das atas se resolva logo".