Sem acordo, Senado adia novamente desoneração da folha

Líder do governo pediu mais tempo para um consenso. STF deu prazo até 11 de setembro

Por Da Redação

Wagner pediu mais tempo para tentar consenso

Sem acordo sobre o aumento de tributação no Juros sobre Capital Próprio (JCP), o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), pediu mais tempo para a votação do projeto de lei que mantém a desoneração de empresas de 17 setores e municípios.

O projeto que formaliza o acordo com o governo estava na pauta do Senado de quinta-feira (15), mas a votação foi adiada para a próxima terça-feira (20).

A principal divergência entre os senadores é o aumento da alíquota do JCP de 15% para 20% como medida de compensação para a perda de arrecadação com a desoneração. Usado por grandes empresas, o JCP permite que a remuneração a acionistas (distribuição de lucros) seja enquadrada como despesa – e, assim, abatida do Imposto de Renda.

Abrir mão

Durante a leitura do parecer, Wagner afirmou que o governo federal está disposto a abrir mão do aumento no JCP, se as outras medidas apresentadas como compensação atingirem o necessário valor – estimado pelo Ministério da Fazenda em cerca de R$ 26 bilhões neste ano.

Apesar da declaração, o líder do governo não deixou claro de que forma o governo federal poderia abrir mão do dispositivo. Como se trata de uma mudança na tributação do Imposto de Renda, a alta só pode começar a valer no ano seguinte em decorrência de uma regra da legislação tributária.

Wagner também defendeu a responsabilidade fiscal e estendeu a cobrança ao Congresso. O senador reafirmou que a medida foi incluída para que a Fazenda tivesse "segurança máxima no trato do fiscal".

"Eu sei que cria desconforto: ninguém gosta de falar de aumento de juros ou de contribuição. Agora, eu insisto que esta Casa foi quem votou a Lei de Responsabilidade Fiscal", disse durante a leitura do parecer.

"Eu sou daqueles que estão acreditando na aposta que estamos fazendo sobre recuperação de ativos, atualização de ativos, pente-fino, [...], mas vou repetir que é próprio da Fazenda, da Receita querer ter a segurança máxima no trato do fiscal."

Empregados

Outro ponto criticado por empresários e parlamentares é a obrigação para que as empresas desoneradas mantenham a quantidade total de empregados a partir de 1º de janeiro do ano que vem – uma demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Se a empresa descumprir a regra, a Receita Federal poderá cortar o benefício fiscal e a alíquota de contribuição previdenciária volta a ser de 20% sobre a folha de salários.

"A exigência de manutenção de quantitativo igual ou superior de funcionários, mais uma vez, vem ferir de morte a desoneração. Se o governo garantir manutenção de nossos contratos, de quantidade de serviços, de preços reajustados, seria viável esta exigência", disse a presidente da Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e Informática (Feninfra), Vivien Suruagy.

Para a empresária, ninguém consegue esta garantia. "É descabida a exigência, sendo uma forma disfarçada de mais uma vez acabar com a desoneração, sacrificando sem pudor, os empregos de tantos trabalhadores", criticou.

Na saída da sessão do Senado, o relator afirmou em tom irônico que, se os parlamentares fazem questão de dizer que as empresas podem demitir, a regra poderia ser retirada.

Prazo

Para garantir a prorrogação da desoneração, o projeto precisa ser aprovado pelas duas Casas do Congresso e sancionado pelo presidente Lula até 11 de setembro.

O prazo foi dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que governo e Congresso chegassem a um acordo sobre o tema e apresentassem medidas de compensação para a perda de arrecadação.

Wagner também incorporou um pacote proposto pelo Senado com medidas como a atualização do valor de bens (como imóveis) na declaração do Imposto de Renda, abertura de um novo prazo de repatriação de recursos no exterior e um Desenrola (programa de renegociação de dívidas) para empresas com multas e taxas vencidas cobradas pelas agências reguladoras.

O relator inovou e incluiu ainda o corte de despesas obrigatórias como medida de compensação.

O relatório estabelece uma série de medidas que endurecem a legislação para auxiliar o combate fraude em benefícios como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), concedido a idosos e pessoas com deficiência, e o seguro-defeso, pago a pescadores artesanais durante o período em que a atividade é proibida para preservar a reprodução dos peixes.

As mudanças na legislação vão reforçar o pente-fino nesses benefícios anunciado pelo governo para conseguir uma economia de gastos de R$ 25,9 bilhões no ano que vem.

Durante as negociações, a perda de arrecadação estimada com a desoneração foi motivo de discórdia entre governo, senadores e empresários.

A necessidade de compensação para o atendimento de regra prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi o argumento utilizado pela União para pedir ao STF a suspensão da desoneração em abril.

A desoneração da folha das empresas permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência. As alíquotas variam a depender de cada um dos 17 setores beneficiados.

Thaísa Oliveira e Adriana Fernandes (Folhapress)