Senado tenta de novo votar desoneração da folha de pagamento

A principal discordância entre os senadores gira em torno do aumento da alíquota dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) como forma de compensação da receita

Por Karoline Cavalcante

Wagner tenta consenso para aprovar a desoneração

O plenário do Senado Federal tentará dar continuidade, nesta terça-feira (20) à discussão sobre o projeto de lei que trata da desoneração este ano e reoneração paulatina a partir do ano que vem da folha de pagamento de 17 grandes setores da economia brasileira e municípios.

Na última quinta-feira (15), o relator do PL 1.847/2024, senador Jaques Wagner (PT-BA), também líder do governo, apresentou o seu substitutivo. Ele afirmou que continuará dialogando com as partes envolvidas até o momento da votação. “O texto é resultado de um longo processo de negociação entre governo, Congresso e a sociedade e prevê uma série de medidas de compensação para evitar que o Orçamento do país fique descoberto”, disse Wagner.

Compensação

A questão da compensação é o grande ponto de divergência. Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) estabelece que a desoneração este ano só poderia acontecer caso governo e Congresso chegassem a uma alternativa para compensar a perda de receita que haveria mantendo a autorização das empresas continuarem não pagando integralmente as despesas previdenciárias da sua folha de pagamento. Na tramitação que aprovou a desoneração, o Congresso ainda ampliou esse rombo, levando a desoneração também à folha previdenciária de municípios.

O Senado já tentou algumas vezes votar o projeto desde o final do primeiro semestre. Mas esbarra justamente em falta de consenso sobre como fazer essa compensação.

Diante das divergências, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acatou na semana passada o pedido de Wagner de adiamento. “Essa proposta parece exigir um tempo adequado para maturação, a partir do conhecimento do parecer do relator, para que os senadores e senadoras possam avaliar o parecer e o tema em questão”, afirmou Pacheco.

A principal discordância entre os senadores gira em torno do aumento da alíquota do Juros sobre Capital Próprio (JCP), passando de 15% para 20%. Esse ajuste é proposto como uma forma de compensar a perda de arrecadação resultante da desoneração tributária. O JCP, amplamente utilizado por grandes empresas, permite que a remuneração destinada aos acionistas, conhecida como distribuição de lucros, seja classificada como uma despesa, possibilitando seu abatimento no Imposto de Renda.

Histórico

Quando o Congresso aprovou a manutenção da desoneração para este ano, inicialmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o projeto. O Congresso, então, derrubou o veto. O governo, então, entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da desoneração, justamente alegando a necessidade de compensação para atender uma regra estabelecida pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A LRF exige que o governo mantenha um equilíbrio fiscal e de controle sobre as suas finanças públicas. Para garantir o cumprimento dessa legislação, a União argumentou que a desoneração estava impactando negativamente a arrecadação de receitas necessárias para equilibrar o orçamento e a suspensão da desoneração foi solicitada para assegurar que as regras fiscais fossem respeitadas e que o governo pudesse compensar a perda de receitas de forma adequada.

Depois, porém, o governo fez um acordo político com o Congresso e tentou mesmo retirar a ação. Mas o Supremo entendeu que, de fato, havia o problema com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Buscou, então, um entendimento.

Em maio, o ministro do STF, Cristiano Zanin, determinou que em 60 dias o Executivo e o Legislativo deveriam chegar a um acordo sobre as fontes de compensação para manter a desoneração e não causar um prejuízo aos cofres públicos. Não houve consenso e para garantir a prorrogação do projeto, o ministro do STF, Edson Fachin, estendeu o prazo para até o dia 11 de setembro para a aprovação pelas duas Casas do Congresso e a sanção presidencial.