Câmara deve concluir votação da tributária

Para evitar aumento de imposto, Senado deve retirar carne de isenção tributária

Por Gabriela Gallo

Lira travou reforma como reação ao STF

Como previsto na última semana, o plenário da Câmara dos Deputados deve retomar as discussões acerca dos destaques do segundo texto que regulamenta a reforma tributária (PLP 108/2024), nesta semana. Inicialmente, a previsão era que os parlamentares já voltassem a debater o tema na sessão do plenário desta segunda-feira (26). Porém, o presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), autorizou aos deputados o registro de presença remota em decorrência das fumaças de queimadas em Brasília, que podem causar problemas de saúde.

O texto base do Projeto de Lei Complementar 108 foi aprovado no dia 14 de agosto, sem a análise dos destaques. Elas ficaram travadas como uma resposta à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino em suspender as emendas impositivas ao orçamento.

Enquanto o PLP 68 define e implementa os novos tributos IBS e CBS, definindo as suas alíquotas e excepcionalidades, o PLP 108 organiza o Comitê Gestor do IBS (CG-IBS) – que será responsável por coordenar a arrecadação, fiscalização, cobrança e distribuição do tributo aos entes federados, elaborar a metodologia e o cálculo da alíquota e outras atribuições.

Imposto de transmissão

Dentre as medidas previstas no texto base está a incidência do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD) sobre planos de previdência do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). O ITCMD é o tributo cobrado sobre a transferência de bens móveis, imóveis e direitos por herança em caso de falecimento ou doações.

Não há um consenso sobre o ITCMD nas unidades da federação, onde cada estado tem sua própria regra sobre o imposto. Na intenção de uniformizar essas regras, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou uma discussão em plenário virtual sobre o tema. Porém, nesta segunda-feira (26), o ministro Gilmar Mendes pediu vista do pedido e agora tem que retorná-lo à Corte em até 90 dias.

Já em relação aos destaques, há uma falta de acordo entre os parlamentares. Um dos destaques, de autoria do deputado Ivan Valente (Psol-SP), implementa o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), classificadas como o conjunto de bens que passe de R$ 10 milhões. A proposta determina que o tributo seria anual, com alíquotas de 0,5% (de R$ 10 milhões a R$ 40 milhões), de 1% (acima de R$ 40 milhões até R$ 80 milhões) e de 1,5% (acima de R$ 80 milhões).

Outro destaque muda o Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). A emenda do deputado Ricardo Salles (PL-SP) busca reverter o poder dado às administrações municipais de definirem qual seria o valor sobre o qual incide o imposto, de acordo com critérios especificados no substitutivo, em “condições normais de mercado”.

Carne

Enquanto a Câmara define os ajustes do PLP 108, o Senado Federal discute o primeiro texto que trata da regulamentação da reforma tributária (PLP 68/2024). E após cálculos da equipe econômica do governo concluírem que a alíquota-base do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) pode aumentar de 26,5% para 28% devido às concessões aprovadas pelos deputados, os senadores devem repensar o PLP 68.

Dentre as medidas, o Grupo de Trabalho que discute o tema no Senado e o relator da medida, senador Eduardo Braga (MDB-AM), devem retirar as carnes vermelhas, frango e sal da cesta básica de alíquota zero – medida que foi incluída com isenção tributária de última hora na Câmara. Além disso, os senadores debatem retirar carros elétricos do Imposto Seletivo (IS), que é o imposto com alta carga tributária que será incidido em produtos que fazem mal à saúde humana e ao meio ambiente.

Além disso, nesta terça-feira (27), a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) discutirá os possíveis impactos da reforma sobre a cadeia produtiva da construção civil e sobre o déficit habitacional no Brasil.