Por: Karoline Cavalcante

Sete de Setembro: entre celebrações e protestos

Lula abre o desfile de Sete de Setembro em Brasília | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em discurso na Avenida Paulista, Bolsonaro chamou Moraes de "ditador"

Seja debaixo do sol inclemente e da forte seca no Palacio Central seja por cinco quadras na Avenida Paulista, mais uma vez a comemoração do dia Sete de Setembro, no sábado, no 202º aniversário da Independência do Brasil, foi marcado pela forte polarização política que ainda domina o país, a um mês das eleições municipais.

Último alvo da discussao política polarizada brasileira, a rede social X (antigo Twitter), do bilionário Elon Musk, foi tema tanto em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, quanto na Paulista. De maneira indireta no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dar início ao desfile militar. De maneira mais do que direta no protesto, destinado a reforçar o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que a oposição protocola nesta segunda-feira (9) no Senado Federal. Decisão de Moraes suspendeu as atividades do X no Brasil, no que os opositores do atual governo interpretam como um atentato à liberdade de expressão.

Desfile

Com o tema “Democracia e Independência. É o Brasil no rumo certo”, Lula abriu o desfile cívico-militar às 9h14, quando chegou na Esplanada em carro aberto, o tradicional Rolls-Royce presidencial. Sem citar nomes, Lula mandou uma indireta para o dono da rede social X (antigo Twitter), o bilionário Elon Musk. No dia 30 de agosto, a plataforma foi suspensa do Brasil após Musk não cumprir decisões judiciais do país.

“Nenhum país é de fato independente quando tolera ameaças à sua soberania. Seremos sempre intolerantes com qualquer pessoa, tenha a fortuna que tiver, que desafie a legislação brasileira. Nossa soberania não está à venda”, disse o petista.

Depois do discurso, houve, porém, uma tentativa de despolitizar o desfile. A abertura do desfile foi marcada pela participação de 500 estudantes da rede pública do Distrito Federal; 31 atletas olímpicos que estiveram nas Olimpíadas de Paris, na França, como o medalhista de atletismo Caio Bonfim. Para celebrar a retomada da vacinação, o mascote do Sistema Único de Saúde (SUS), Zé Gotinha, também desfilou. Por fim, a clássica apresentação da Esquadrilha da Fumaça encerrou a celebração. Estimativas do governo do DF indicam que cerca de 30 mil pessoas participaram da comemoração.

Autoridades

O evento contou com a presença de chefes dos poderes e representantes das forças armadas, além da presença do presidente Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB); o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso; e os também ministros da Suprema Corte, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Edson Fachin.

Também acompanharam da tribuna o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB); o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); e os comandantes do Exército, general Tomás Miguel Paiva, da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, e da Marinha, Claudio Mello de Almeida. Um dia depois do escãndalo de assédio sexual envolvendo o agora ex-ministro dos Direitos Humanos Sílvio Almeida e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, os demais integrantes dos ministério do governo também estiveram presentes.

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Na Paulista, Bolsonaro chama Alexandre de Moraes de "ditador" | Foto: Marina Uezima/Brazil Photo Press/Folhapress

Oposição

Algumas horas depois, por volta das 14h do sábado (7), alguns dos principais lideres de oposição ao governo Lula começaram a se reunir na Avenida Paulista em São Paulo. Houve protestos menores também no Rio de Janeiro e outras cinco cidades. Em meio a camisas amarelas, a Avenida Paulista recebeu a mobilização de manifestantes aliados à direita, para pressionar o impeachment de Alexandre de Moraes e pedir anistia para os presos políticos condenados pelo ataque às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023. Além do pedido de impeachment de Moraes, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Cãmara analisa esta semana projeto que anistia os condenados nos atos antidemocráticos.

O protesto, que foi organizado pelo pastor Silas Malafaia, contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do senador Magno Malta (PL-ES), do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), da deputada federal Bia Kicis (PL-DF), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-DF), da deputada federal Julia Zanatta (PL-SC), dentre outros.

A expectativa era que Bolsonaro, alvo de ações judiciais que são relatadas no STF por Alexandre de Moraes, centrasse o seu discurso nos processos legais que enfrenta no Supremo e não focasse no impeachment do ministro. Antes, Silas Malafaia chegou a informar que assim seria.

Porém, além de defender a anistia para os condenados pelos ataques, Bolsonaro disse esperar que o Senado Federal “bote um freio” em Moraes. E chegou a chamá-lo de ditador.

Antes do ato, chegou-se a cogitar que Bolsonaro não falaria na Avenida Paulista. Na manhã de sábado, ele chegou a dar entrada no Hospital Albert Einstein após se sentir mal, com uma forte gripe e perda da voz. Recuperado, ele recebeu alta a tempo de discursar.

"Eu espero que o Senado Federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva", disse o ex-presidente na Paulista.

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Manifestante durante o ato que pede o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e a anistia de presos do 8 de janeiro | Foto: Marina Uezima/Brazil Photo Press/Folhapress

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Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro criticaram o STF e o Ministro Alexandre de Moraes | Foto: Eduardo Knapp/Folhapress