Por: Karoline Cavalcante

Crise ambiental é dor de cabeça para o governo

Crise ambiental vira encrenca política para Lula | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um complexo cenário de desafios ambientais significativos, que exigem uma abordagem estratégica e coordenada para garantir a sustentabilidade e o equilíbrio ecológico do país.

Sob a presidência de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil experimentou um aumento significativo no desmatamento dos principais biomas brasileiros e uma flexibilização das regulamentações ambientais.

Segundo análise do Instituto Socioambiental (ISA) sobre os índices de desmatamento em Áreas Protegidas durante o governo Bolsonaro, a gestão do ex-presidente representou o maior retrocesso ambiental do século, com um aumento de 94% no desmatamento e taxas anuais superiores a 1,1 milhão de hectares. Comparado aos últimos quatro anos da presidência de Bolsonaro, o desmatamento foi 59% maior do que nos quatro anos anteriores (2015 a 2018), quando o Palácio do Planalto era comandado por Dilma Rousseff (PT), até agosto de 2016, quando ela sofreu impeacment e o cargo foi assumido por Michel Temer (MDB).

Desafio para Lula

Porém, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre queimadas e desmatamento na Amazônia, em agosto de 2024 o governo Lula registrou 38,1 mil focos. Isso representa uma diferença de 3,1 mil focos em relação ao pico da gestão de Bolsonaro, que alcançou 41,2 mil focos em setembro de 2022.

No Cerrado, o governo Lula apresentou a máxima de 17,6 mil focos em agosto de 2024, enquanto o governo Bolsonaro atingiu 21,7 mil focos em setembro de 2019. Já no Pantanal, a atual gestão alcançou 4,7 mil focos em agosto de 2024 e a gestão anterior obteve 7,9 mil focos em setembro de 2020. A análise conta com dados mensais desde agosto de 2019 a agosto de 2024.

Ou seja, o mês de agosto deste ano tem sido o pior da liderança do petista. Esses resultados trazem à tona debates acerca do tema, considerando que nos discursos do atual presidente, sempre estiveram presentes muitas críticas à administração anterior nas pautas ambientais.

Falta de prioridade

De acordo com a análise do cientista político Isaac Jordão, Lula não deu a devida prioridade às questões ambientais nos primeiros 18 meses de seu mandato, o que tem prejudicado a imagem do governo.

“A questão climática é um desafio antigo e que foi, em maior ou menor grau, sendo colocada em prejuízo de outras questões na escala de prioridade dos governos. O problema de desertificação nas regiões limítrofes dos biomas já são conhecidas e pouco se fez para impedir o seu avanço. Além disso, a fiscalização sobre a utilização de fogo no Brasil nunca foi feita de modo satisfatório”, iniciou.

“É importante lembrar que este não é um problema do governo Lula III, mas não é possível escusar que o governo não deu a prioridade devida nos primeiros 18 meses de mandato. Isso tem sim impacto negativo sobre a imagem do governo, principalmente porque a comunicação acerca das ações está muito ruim”, explicou o especialista.

Autoridade Climática

Durante reunião em Manaus, no Amazonas, com prefeitos do estado, na última terça-feira (10), Lula anunciou a criação de uma Autoridade Climática e de um Comitê Técnico-Científico para otimizar e coordenar as estratégias do governo federal no enfrentamento das mudanças do clima. Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a chefia da pasta ainda não tem um nome definido. Ela destacou que o objetivo é estabelecer uma instituição robusta o suficiente para "atravessar, de forma adequada em uma democracia, as alternâncias de poder".

“A ação rápida do governo, ainda que atrasada, tem ajudado a diminuir o impacto das más notícias, por exemplo a elaboração de uma proposta de criação de uma autoridade ambiental, mas é necessário que o governo dê celeridade a essas ações para não cair na vala do discurso vazio”, disse Isaac Jordão.