Por: Gabriela Gallo

Após jogar cadeira em Marçal, polícia abre inquérito contra Datena

Agressão de Datena a Pablo Marçal durante debate na TV Cultura. | Foto: Reprodução/TV Cultura

Faltando apenas três semanas para as eleições municipais, os candidatos à prefeitura de São Paulo José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) chamaram a atenção para seus nomes, mas não devido a suas propostas de campanha. Em um debate na TV Cultura na noite deste domingo (15), Datena jogou uma cadeira contra o adversário. O caso repercutiu em todos os meios de comunicação e o debate teve de ser interrompido. Após o impacto, Marçal foi encaminhado para o Hospital Sírio-Libanês e recebeu alta médica nesta segunda-feira (16). O boletim médico do hospital apontou que ele teve traumatismo na região do tórax à direita e no punho direito, sem maiores complicações associadas.

Os candidatos já trocavam farpas e insultos há muito tempo. Durante o debate na TV Cultur,a o empresário relembrou um processo de assédio sexual contra Datena – em 2019, ele foi processado pela jornalista Bruna Drews por suposto assédio sexual. Ela depois retirou a queixa, o processo foi arquivado, mas ela depois alegou que foi coagida a retirar o processo. Marçal seguiu provocando o comunicador, chamando- de “arregão” e que Datena “não era homem”. Nisso, o candidato do PSDB jogou a cadeira em Marçal

Lesão corporal

Após o caso, nesta segunda-feira (16) a Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito contra Datena para apurar crimes de lesão corporal e injúria. Para a Globonews, o advogado pessoal de Datena, Eduardo Cesar Leite, afirmou que representará criminalmente contra Pablo Marçal por calúnia e difamação.

Nesta segunda-feira, ambos os envolvidos se manifestaram sobre o ocorrido. Por meio de live, Marçal disse que a cena foi “deprimente”.

“Vou sair daqui [hospital] e vou fazer o corpo delito no IML. Foi um esbarrão, está tudo certo, todo mundo aqui sabe, um comedor de açúcar daquele tamanho, ele é mais lento que um bicho preguiça, mas eu fui uma oferta ali, só para o povo sentir o que que é uma pessoa que não tem medo, o que é alguém levar pelo povo”, disse Marçal em live.

Em resposta, por meio de nota, Datena reconheceu o erro, mas disse que não se arrepende do que fez. “Pablo Marçal demonstrou, em todas as situações a que teve oportunidade, sua falta de caráter. Demonstrou, ainda, que é uma ameaça à cidade de São Paulo. Será detido no voto. Mas, a despeito disso, precisava também ser contido com atos. Foi o que eu fiz”, afirma a nota.

Impactos

O episódio foi marcante. É o ápice de uma tendência na qual os debates políticos foram se tornando mais insultuosos e menos voltados realmente à discussão dos problemas políticos e econômicos. Mas esse é um dos primeiros registros de agressão física depois da redemocratização do país.

Ao Correio da Manhã, o Coordenador de Estados e Municípios da BMJ Consultores Associados Aryell Calmon disse que as eventuais consequências desse tipo de atitude no meio político são o “esvaziamento do debate público”.

“Seja porque os candidatos deixam de comparecer aos debates ou por focarem suas intervenções, durante a campanha, em ataques aos adversários e em temas alheios às políticas públicas de impacto municipal”, avalia.

Já o cientista político Tiago Valenciano reiterou que é necessário esperar mais um tempo para se perceberem os verdadeiros impactos do caso. “O primeiro fato é entender como Datena vai se posicionar daqui para a frente, ele que é um personagem com pouco crédito na disputa eleitoral. Quem acabou lucrando temporariamente um pouco a mais foi Marçal, porque entra de vítima na história”.

Porém, Aryell Calmon também não descarta que os demais candidatos Tabata Amaral (PSB), Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) possam buscar uma brecha para tentar descredibilizar seus adversários.

Questionados pela reportagem, ambos os especialistas destacam que o episódio evidencia que o novo padrão político é focado em gerar engajamento nas redes sociais, já que o caso teve uma grande repercussão. “O padrão é o esvaziamento das ideias e a inclusão da política nesse universo virtual, transformando a realidade em cortes virais que possam gerar aumento de popularidade, números e, para alguns grupos, retorno financeiro”, completou Calmon.