A Polícia Federal indiciou os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-AM), além do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR) sob suspeita de cobrança de propina para beneficiar a antiga Hypermarcas, hoje conhecida como Hypera Pharma, do setor farmacêutico. As informações foram reveladas pelo UOL na última sexta-feira (20) e confirmadas pelo Correio da Manhã.
A investigação concluiu que os três são acusados de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa; por atuarem para favorecer a empresa no Congresso Nacional em troca de propina. Os senadores teriam manipulado um projeto de lei que tramitou no Senado entre 2014 e 2015, relacionado a incentivos fiscais para empresas, de modo a favorecer este grupo. A PF ainda aponta que Calheiros indicou um nome para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a intenção de promover os interesses da farmacêutica dentro da agência.
O relatório revelou que a antiga Hypermarcas destinou cerca de R$ 20 milhões aos senadores. O empresário Milton Lyra foi identificado como o intermediador. À época, ele atuava como lobista para o MDB. Ele também foi indiciado por lavagem de dinheiro.
Lava Jato
Este inquérito, que se desdobrou da Operação Lava Jato, teve início em 2018, impulsionado pela delação premiada de Nelson Mello, ex-diretor da antiga Hypermarcas. Mello revelou ter firmado contratos fictícios com empresas sugeridas por Milton Lyra, sem qualquer serviço prestado, visando transferir recursos a políticos. A delação foi formalmente acolhida pela PGR em 2016, o que desencadeou o início das apurações.
Após seis anos de investigações sob sigilo, o relatório final foi encaminhado pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto. O ministro da Suprema Corte, Edson Fachin, relator do caso, repassou o material à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora avalia a possibilidade de apresentar uma denúncia contra os indiciados. O desfecho dessa longa apuração pode trazer novas revelações sobre as práticas de corrupção envolvendo figuras políticas e empresariais.
Caciques
Caciques do MDB, Calheiros e Braga, senadores até 2026, consolidam suas posições como aliados estratégicos do Palácio do Planalto. Enquanto Braga é o responsável pela relatoria da reforma tributária no Senado Federal. Calheiros, além de presidente da Comissao de Relações Exteriores (CRE) do Senado, é pai do ministro dos Transportes do governo Lula, Renan Filho.
Já a investigação que envolve Jucá foi remetida à primeira instância da Justiça Federal no Distrito Federal, pois ele perdeu o foro privilegiado por não ocupar mais um cargo de autoridade pública. Com essa mudança, o caso agora segue seu trâmite nas instâncias regulares.
Procurada pela reportagem, a defesa do senador Eduardo Braga chamou o indiciamento de “ilações esdrúxulas”.
“Trata-se de ilações esdrúxulas sem amparo nos elementos constantes do próprio inquérito. Há evidências claríssimas de que o parlamentar não manteve contato com o delator, que, além de mudar sua versão 4 anos depois, baseia suas declarações em mero ‘ouvir dizer’.”, iniciou o advogado Fabiano Silveira. “Não tenho dúvidas de que inquérito será arquivado. Triste, porém, é ver mais um episódio de vazamento ilegal”, finalizou.
Em nota, a defesa de Romero Jucá repudiou o indiciamento e afirmou que o ex-senador colaborou com as investigações.
"É da natureza da função parlamentar a conexão com setores da sociedade, com empresários e grupos econômicos. Além do mais, contribuições legítimas para campanha política, dentro das regras eleitorais, com aprovação das prestações de contas do partido político pela Justiça Eleitoral, jamais podem ser consideradas como contrapartida de suposto ato de corrupção", disse o documento.
O Correio da Manhã também tentou contato com a assessoria do senador Renan Calheiros e com a empresa farmacêutica, Hypera Pharma, mas não obteve retorno.