Marcos do Val diz que vai morar no Plenário do Senado
Senador diz que está sem dinheiro depois que Moraes bloqueou os seus bens
Uma mala de couro, uma sacola, outros pertences. Esses apetrechos agora acompanham o senador Marcos do Val (Podemos-ES) dentro plenário do Senado. Depois que teve seus bens bloqueados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, como consequência das investigações dos atos antidemocráticos, o senador resolveu acampar no plenário, e anunciou que lá dormiria.
A atitude de se mudar para a sala onde acontecem as sessões na Casa Legislativa é um protesto pela determinação de Moraes, que acaba reforçando as ações contra o ministro do Supremo, que será alvo de manifestações no Sete de Setembro e de um pedido de impeachment que a oposição pretende protocolar contra ele na segunda-feira (9).
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegou a recorrer ao STF pedindo o desbloqueio dos bens de Marcos do Val sob a justificativa de que a decisão viola “a dignidade da pessoa humana”. Moraes, porém, negou o pedido.
"Restrição indevida"
“O bloqueio dessas verbas impossibilita o ressarcimento de despesas necessárias ao exercício do mandato, como transporte, hospedagem, alimentação, e outras necessárias ao desempenho de suas funções. Sem esses recursos, o senador enfrenta obstáculos significativos para manter o seu escritório no estado de origem, se deslocar semanalmente à sua base de apoio parlamentar, participar de compromissos institucionais e partidários e demais atividades relacionadas ao mandato, o que configura uma restrição indevida e desproporcional ao pleno exercício de suas funções públicas”, disse a manifestação do presidente do Senado.
Durante pronunciamento no plenário na terça-feira (3), Marcos do Val cobrou de Pacheco a instauração de um processo de impeachment contra Moraes. Segundo o parlamentar, as ações do ministro estariam em desacordo com a Constituição e ameaçam a democracia. Além disso, o senador destacou que as restrições que vem enfrentado — como o bloqueio de suas contas em redes sociais e o cancelamento de seu passaporte diplomático — têm afetado sua capacidade de desempenhar suas funções como legislador.
“Não tenho condições de me alimentar. Eu tenho que pedir para a minha assessoria me ajudar a dividir o que eles têm, porque eu não vou pegar dinheiro, senão vão achar que é rachadinha e não sou louco de fazer isso”, disse o senador.
“Estou vindo aqui com minhas roupas e vou ter que morar no Senado. Não no meu gabinete, porque lá é um local de trabalho. Eu vou achar algum corredor e vou morar aqui, vou deitar e vou dormir até quando perceber que isso foi um pesadelo, que isso não era real”, acrescentou, na tribuna.
30%
As declarações foram feitas logo após Moraes recuar e decidir autorizar que o parlamentar receba 30% do seu salário para “subsistência”. “Verifico que não há necessidade de manutenção total da restrição, para permitir que o investigado possa dispor de valores decorrentes de seus vencimentos necessários para sua efetiva subsistência”, justificou o ministro no documento.
No dia 13 de agosto, Moraes determinou um bloqueio de até R$ 50 milhões nas contas do senador. Ao Correio da Manhã, Marcos do Val considerou a determinação “ilegal” e afirmou que, devido à multa, o salário que recebe já é automaticamente descontado da sua conta. Além disso, informou que se recebesse o salário integral, levaria cerca de 400 anos para quitar a penalidade. A remuneração bruta de um senador é de R$ 44 mil.
Do Val utiliza um imóvel funcional em Brasília, disponibilizado pelo Senado Federal. No entanto, segundo ele, está enfrentando dificuldades para arcar com despesas básicas, como alimentação, contas de luz e água, entre outras. “No apartamento funcional só não é pago o aluguel”, afirmou à reportagem.