Mercado projeta juros mais altos na próxima reunião do Copom

Nomeação de Galípolo indica que Banco Central mantém mesma linha de atuação

Por Karoline Cavalcante

Padrão do BC não mudou após indicação de Galípolo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar após a próxima reunião, um aumento na taxa básica de juros, conhecida como Selic. Segundo projeções do mercado financeiro, essa elevação será de 0,25 ponto percentual.
Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano desde o dia 8 de maio de 2025, quando o Copom reduziu a taxa básica de juros pela sétima vez consecutiva. A esperada elevação para 10,75% será a primeira em mais de dois anos e coincidirá com a primeira reunião após a indicação de Gabriel Galípolo, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para presidir o Banco Central a partir de 2025. Galípolo ainda precisará passar por uma sabatina e obter a aprovação do Senado Federal antes de assumir oficialmente o cargo. A previsão é que os trâmites para essa aprovação sejam iniciados na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) após o segundo turno das eleições municipais.

“Não hesitará”

Em ata divulgada no dia 6 de agosto, após a última reunião realizada no dia 31 de julho, o Banco Central informou que o colegiado reforçou, de forma unânime entre os membros, que “não hesitará em elevar a taxa de juros” se seus integrantes entenderem que é necessário.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para
assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado. Como usual, as
estratégias adotadas pelo Comitê refletirão o compromisso com o cumprimento da
meta de inflação, visando também a reancoragem das expectativas de inflação de modo a minimizar o custo da desinflação”, diz o documento.

De acordo com o Boletim Focus desta segunda-feira (16), o mercado financeiro projeta que a Selic encerrará 2024 em 11,25% ao ano. Olhando mais à frente, as estimativas indicam uma desaceleração gradual da taxa básica de juros. Em 2025 é prevista uma queda para 10,50%. Em 2026, a expectativa é que reduza para 9,50%. E em 2027, a taxa projetada está em 9,0%.

Reuniões

As reuniões do Comitê ocorrem aproximadamente a cada 45 dias, sempre em terças e quartas-feiras. No primeiro encontro, são apresentadas as análises sobre o cenário econômico brasileiro e mundial. No segundo encontro, são avaliadas as perspectivas de inflação e tomada a decisão sobre a taxa Selic, que é divulgada no mesmo dia por meio de um comunicado. A ata da reunião é publicada dentro de um prazo de até quatro dias úteis, geralmente na terça-feira da semana seguinte, às 8h.
No Brasil, o Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão superior do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e é composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad — que é quem preside o CMN; o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto; pela ministra Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; entre outros membros.

O conselho define um regime de metas anuais de inflação, no presente momento, a meta definida para 2024 é de 3,00% p.p. ao ano, com um intervalo de tolerância para cima ou para baixo estabelecido em mais ou menos 1,50 ponto percentual em relação à meta, isto é, de 1,50% a 4,50%. Ou seja, se a inflação de 2024 fechar abaixo de 4,50% significa que foi cumprida.

De acordo com a análise do professor José Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), não há motivos para se preocupar com o não cumprimento da meta.

“Se você olhar para as projeções do Boletim Focus para o ano de 2024, você vê que as expectativas são de que a inflação vai fechar confortavelmente abaixo de 4,25%. Alguns dizem 4,2%, outros dizem 4,3%. Nós já estamos em setembro, então não há nenhuma razão para acharmos que a meta de inflação não vai ser cumprida este ano”, iniciou o economista.

“E mesmo se tivéssemos esse entendimento, o fato é que existe o intervalo de tempo entre o que o Banco Central faz em termos de taxa de juros e o efeito que isso tem sobre a inflação. Os estudos empíricos mostram que leva de nove a 12 meses para a taxa de juros ter efeitos sobre a taxa de inflação”, finalizou.