CAE realiza últimas audiências sobre regulamentação da tributária

Pacheco solicitou retirada de urgência do projeto para destravar pautas no Senado

Por Gabriela Gallo

Última audiência da comissão da CAE será nesta terça

Enquanto o Senado Federal segue com a pauta travada devido à urgência do primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária (PLP 68/2024), a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa realiza as últimas audiências sobre o tema. Nesta terça-feira (24), a CAE fez a penúltima discussão prevista sobre o tema. Na audiência, os representantes discutiram os impactos da reforma tributária nos regimes diferenciados e específicos no texto – ou seja, aqueles em que o modelo de apuração difere do padrão, beneficiando determinados setores da economia com redução de carga tributária. A discussão segue nesta quarta-feira (25), quando acontecerá a última audiência.

A reforma tributária unifica cinco tributos (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins) cobrados sobre consumo e produção no Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que vai incidir no consumo, ou seja, no momento da venda do bem. Será um "IVA dual", composto pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) para estados e municípios e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), para a União. O PLP 68/2024 implementa os novos tributos IBS e CBS, regulamentando alíquotas e outras questões.

Mas, apesar da pauta travada, os senadores seguem sem muita pressa na discussão do tema. O coordenador do grupo de trabalho sobre a regulamentação da reforma tributária, senador Izalci Lucas (PL-DF), informou que deve entregar o relatório do grupo até o dia 22 de outubro para o relator do texto, senador Eduardo Braga (MDB-AM). Para liberar a pauta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), solicitou, nesta terça-feira, que o governo retire a urgência do projeto . A expectativa é que o governo acate o pedido nos próximos dias.

Reivindicações

A Emenda Constitucional 132, que promoveu a reforma tributária, estabelece uma série de atividades beneficiadas com a redução de tributos. Os regimes diferenciados asseguram descontos de 30%, 60% ou 100% para vários setores ou finalidades específicas da economia. Na audiência desta terça, os parlamentares ouviram uma série de setores da economia que solicitaram revisões das alíquotas cobradas.

Dentre os pedidos, o secretário-executivo do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Bruno Sobral, defendeu a isenção tributária total do sistema de atendimento domiciliar, conhecido como home care, que é o conjunto de atividades médicas realizadas na casa do paciente. O atendimento tende a ser acionado em casos de complexidade assistencial e avaliação socioambiental do paciente, realizado por equipe multiprofissional de saúde.

“Esse é o setor que faz todos os serviços de saúde que estão previstos na lei, mas ele os faz em ambiente domiciliar. Uma reforma sem tratamento diferenciado para a saúde geraria um aumento de 17 pontos percentuais na carga tributária, um impacto de R$ 11 bilhões para as famílias brasileiras”, disse Sobral.

Além disso, no campo, o diretor de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério de Desenvolvimento Agrário, solicitou a revisão de alíquotas voltadas para agrotóxicos. “Existem agrotóxicos altamente tóxicos para a saúde e prejudiciais ao meio ambiente e estão com a mesma alíquota do bioinsumo. Então, propomos que aqueles [agrotóxicos] que têm a mesma classificação de altamente tóxicos, saiam da alíquota reduzida”, disse.

Ao final da audiência, o diretor da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária (Sert), Daniel Loria, informou que o Ministério da Fazenda avaliará os pedidos. Porém, ele reiterou que o texto precisa ter um limite nas exceções.

“O regime diferenciado é redutor de alíquotas, mas a decisão de criação das faixas já foi tomada [pelo Congresso]. O que a gente está fazendo na lei complementar é, com muito equilíbrio e técnica, uma descrição acurada para concretizar aquilo que o constituinte já definiu. Eu ousaria dizer que é uma discussão mais técnica do que política”, destacou Loria.