Por: Gabriela Gallo

Assédio de Silvio Almeida contra Anielle começou em 2022

Anielle tentou evitar importunação sexual | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Em depoimento à Polícia Federal (PF), nesta quarta-feira (2), a ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, confirmou os casos de assédio e importunação sexual cometidos contra ela pelo ex-ministro de Direitos Humanos Silvio Almeida. Ela conversou durante uma hora com as autoridades e não falou à imprensa ao deixar a sede da PF.

O depoimento de Anielle Franco faz parte de um inquérito da PF que investiga casos de assédio sexual e moral cometidos por Silvio Almeida. O inquérito foi autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, em 17 de setembro, com base em apuração preliminar da polícia. Apesar de o acusado não ocupar mais um cargo no governo federal, Mendonça avaliou que o caso ainda deve seguir em tramitação na Suprema Corte porque as acusações ocorreram quando Almeida era ministro.

Segundo o depoimento de Anielle, os casos de assédio começaram em 2022, antes mesmo da posse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a fase de transição. Ela disse à polícia que as “abordagens inadequadas" começaram no final daquele ano e, com o tempo, foram escalando até a importunação física.

Dentre as abordagens de contato físico sem consentimento, Silvio Almeida chegou a tocar em sua perna por debaixo da mesa quando estavam em reuniões públicas, comportamento que se insistiu nas abordagens por diversos meses. Segundo Anielle, ela mesma tentou conversar diretamente com o ex-ministro de Direitos Humanos sobre seu desconforto e, segundo ela, deixou claro seu desejo de que ele parasse para que ambos seguissem trabalhando dentro da normalidade em seus ministérios. A tentativa foi ignorada por Almeida.

Além dos toques também foram relatados beijos inapropriados e declarações chulas e de conteúdo sexual.

Relembre

Em 5 de setembro, o portal Metrópoles informou que a ONG Me Too recebeu diversas denúncias de assédio sexual contra o então ministro de Direitos Humanos, dentre elas, a ministra. No dia seguinte, o presidente Lula conversou com Anielle e depois conversou com Silvio Almeida, que foi demitido após a conversa. Na avaliação do presidente da República, a permanência do ex-ministro na pasta era “insustentável”. No dia seguinte à demissão do ex-ministro, a então secretária-executiva do ministério, Rita Cristina de Oliveira, – que estava sendo cotada para assumir a pasta – pediu demissão. Dias depois, o presidente Lula anunciou a professora Macaé Evaristo como a nova ministra de Direitos Humanos. Ela tomou posse na última sexta-feira (27).

Silvio Almeida nega todas as acusações e diz que está sendo vítima de uma armação da ONG. Ele acusa o Me Too de interesse na licitação para assumir o Disque 100, canal de comunicação para denúncias de violações contra direitos humanos.

"Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger, ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência", escreveu a ministra em suas redes sociais, logo após a saída de Almeida.

Time

Ainda nesta quarta-feira, Anielle Franco foi escolhida novamente como uma das 100 pessoas mais influentes da nova geração, segundo lista da revista americana Time. Em 2023, a ministra de Igualdade Racial foi eleita uma das mulheres do ano pela revista.

"É uma honra estar ao lado de tantas pessoas que estão lutando por um mundo mais justo e igualitário. Este reconhecimento é, na verdade, um reflexo do trabalho coletivo por uma sociedade onde a igualdade racial e a justiça social sejam realidade. Dedico a todas as mulheres negras e às periferias do Brasil, que são a verdadeira fonte da minha força e resistência", declarou Anielle ao portal do governo federal.