Por: Karoline Cavalcante

Apagão em São Paulo pode influenciar 2º turno das eleições

Apagão em São Paulo entra no debate da campanha eleitoral | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Crise de energia elétrica enfrentada por São Paulo traz a possibilidade de mudanças do cenário político no segundo turno das eleições municipais de 2024, que acontecerá no dia 27 de outubro. Em avaliação de especialistas, o deputado federal e candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol), poderá experimentar um crescimento nas pesquisas contra o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB).

Segundo o cientista político Rócio Barreto, este tema já está sendo utilizado como ferramenta de campanha e continuará até o pleito por ambos os candidatos e seus respectivos apoiadores. Ele ponderou que, entre as narrativas, estão a que atribui culpa ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiador de Nunes, por ter indicado diretores à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o órgão não culpabilizar a Enel, que é a atual empresa responsável pela energia de São Paulo. Enquanto outros atribuem a culpa ao governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), alegando que a Aneel não cobrou da Enel as devidas ações necessárias para que evitasse apagões.

Podas

“Boulos aproveita, usando a narrativa de que o prefeito Nunes não fez a poda das árvores, que não há como culpá-lo pelos ventos e pelas chuvas, mas que teria culpa, sim, por não fazer a manutenção necessária tanto nas redes de esgoto como nas árvores, o que pode estar afetando, além da falta de energia, outros problemas advindos das chuvas”, exemplifica Barreto. “Um vai jogar a culpa tanto no governo federal como no governo estadual e no municipal”.

Em relação ao possível crescimento do candidato do Psol, o cientista político avalia que isso não será o suficiente para fazê-lo disparar na frente. Mas que deverá haver uma mudança, especialmente junto aos “eleitores que não têm viés ideológico e estão muito incomodados com a falta de energia”. Para Barreto, dado o fato de que a disputa foi muito acirrada no primeiro turno, isso poderia deixar os dois candidatos em empate técnico.

“Essa poderá ser uma forma de o eleitor expressar sua insatisfação com o governo, mesmo se não enxergar como responsabilidade da prefeitura. E isso será feito nas urnas, apesar de serem eleições municipais”, iniciou.

“Mas eu creio que os candidatos ficarão empareados e a decisão será por poucos votos; a falta de energia será um dos fatores que irá colocar Boulos em empate técnico com o candidato Nunes”, finalizou.

Marçal

O cientista político André Rosa cogita mesmo um fenômeno que, em princípio, seria inusitado: a migração dos votos dados no primeiro turno a Pablo Marçal (PRTB), um candidato de direita, para Boulos, de esquerda. Marçal terminou em terceiro lugar, muito próximo dos dois candidatos que foram para o segundo turno.

“Abre-se espaço para o Boulos crescer, também, até porque parte dos eleitores do Marçal está chateada por ele não ter ido para o segundo turno. Esses eleitores votaram nele não por uma ideologia de centro-direita ou direita, mas como um voto de protesto. Às vezes, o eleitor não ideológico vota muito pelo candidato, e um apagão mostra uma incompetência governamental. Nesse sentido, o eleitor tem de avaliar. Agora, vai depender muito de como a campanha e o marketing político do Boulos trabalharão isso.”, explicou Rosa.

Boulos é um porta-voz da oposição quando o assunto são privatizações. Ele se manifestou contra a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que foi concluída em julho de 2024, e critica a privatização do setor de energia na capital, mesmo que este tenha sido privatizado desde 1981.

Desde a sexta-feira (12), milhares de clientes seguem sem luz devido às fortes chuvas e vendavais que atingiram o estado, com ventos superiores a 100 km/h. Até o momento, não há previsão para o pleno restabelecimento do serviço. Em relatório divulgado às 15h desta segunda-feira (14), a Enel atualizou o quadro de energia, informando que ainda falta retomar o fornecimento para 400 mil clientes, dos quais cerca de 280 mil estão na capital.

“Nossas equipes seguem trabalhando dia e noite para recompor a rede elétrica desde os primeiros momentos da tempestade. Até as 14h, a energia havia sido restabelecida para mais de 1,7 milhão de clientes na Grande São Paulo. Neste momento, os técnicos estão concentrados em retomar o fornecimento aos 400 mil clientes restantes, dos quais aproximadamente 280 mil estão na capital”, afirmou a nota.