Por: Karoline Cavalcante

Lula defende moeda do Brics e taxação dos super-ricos

Presidente brasileiro participou da reunião por videoconferência | Foto: Reprodução/vídeo

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defendeu novamente nesta quarta-feira (23), a taxação dos super-ricos durante discurso na 16ª Cúpula dos Brics, que acontece em Kazan, na Rússia. Devido a um acidente doméstico que o impossibilitou de viajar, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, o chanceler Mauro Vieira, foi designado para representar a delegação brasileira . Lula participou da Sessão Plenária por videoconferência do Palácio da Alvorada.

Começou com agradecimentos aos chefes de Estado e demais membros das delegações dos países que compõem o bloco pelo apoio que “têm estendido à presidência brasileira do G20”, e convidou todos a integrarem a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. O Brasil é o atual presidente do G20, grupo que reúne as 20 principais economias do mundo. E no ano que vem presidirá o Brics.

“Mesmo sem estar pessoalmente em Kazan, quero registrar minha satisfação em me dirigir aos companheiros do Brics. Quero agradecer o apoio que os membros do grupo têm estendido à presidência brasileira do G20. Seu respaldo foi fundamental para avançar em iniciativas que são cruciais para a redução das desigualdades, como a taxação de super-ricos”, iniciou.

Crise climática

Sobre a urgência das mudanças climáticas, o chefe do Executivo brasileiro responsabilizou os países mais ricos pela crise do clima enfrentada atualmente, e avaliou que o esforço deveria ser para além dos US$ 100 bilhões definidos na cúpula de 2009 — valor destinado para o financiamento climático para nações mais pobres. O compromisso foi inicialmente estabelecido para até 2020 e estendido para até 2025, e, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a meta anual só foi cumprida em 2022.

“O Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões (de dólares) anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, declarou o petista.

Moeda do Brics

No discurso, Lula também defendeu a “criação de meios de pagamentos alternativos para transações” entre os países do Brics. É o que vem sendo apelidado de “moeda do Brics”, que substituiria o dólar nas transações. Lula rechaçou o termo “moeda”.

“Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, afirmou.

Ele citou o Mecanismo de Cooperação Interbancária, que permite aos bancos nacionais de desenvolvimento estabelecerem linhas de crédito em moedas locais, “que reduzirão os custos de transação de pequenas e médias empresas”.

Aproveitou ainda, para elogiar a ex-presidente Dilma Rousseff, que lidera o Novo Banco de Desenvolvimento (o NDB). Ele afirmou que a instituição possui quase 100 projetos, com financiamentos da ordem de US$ 33 bilhões. “O NDB Tem investido na infraestrutura necessária para fortalecer nossas economias e promover uma transição justa e soberana”, disse.

Promoção da paz

Como era esperado, o líder brasileiro pediu por negociações de paz entre os conflitos armados ao redor do mundo. Citou um trecho da fala do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na Assembleia Geral da ONU, sobre Gaza ter se tornado “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”, o que, segundo Lula, é uma “insensatez” que “agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano”. Também mencionou a necessidade de um acordo entre Ucrânia e Rússia.

“No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”

Brics

Após seis anos, o Brasil voltará a assumir a presidência do BRICS a partir de 1º de janeiro de 2025. Em 2024, a Rússia ficou responsável pelo comando do grupo, pois o governo brasileiro pediu para adiar a coordenação em um ano, por também estar à frente da presidência do G20.

O Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia ingressaram no bloco este ano. Até o ano passado, faziam parte do Brics somente o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.