Os resultados das eleições municipais de 2024 evidenciam uma ascensão dos partidos de centro-direita, indicando uma mudança significativa nos padrões políticos dos últimos anos. Segundo o cientista político Rócio Barreto, essa tendência pode resultar em um ambiente menos polarizado nas eleições gerais de 2026.
Agora é o momento de os políticos iniciarem a organização das chapas para a formação do Executivo e Legislativo em níveis federal e estadual.
“Os políticos, a partir das eleições de 2024, vão fazer como sempre fizeram: usar o que aconteceu como parâmetro para a formação do Congresso de 2026, a eleição dos governadores e, consequentemente, a do presidente da República. Eles vão utilizar esse parâmetro e perceber que a política saiu dos extremos e se deslocou para o centro no espectro ideológico”, disse Barreto.
Mais moderados
De acordo com o especialista, os eleitores seguem majoritariamente em defesa de princípios conservadores, como a pauta da família, porém de uma forma diferente da anteriormente vista em 2018, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, representando a extrema direita. Agora, a direita conservadora, mas mais moderada, tem ganhado espaço.
“Mais ou menos dessa forma, eles precisam se organizar e saber que as pessoas querem candidatos conservadores que valorizem a família. Não têm interesse em políticos extremistas e completamente ideológicos. Independentemente de a ideologia ser de esquerda ou de direita, não querem políticas, muito menos políticos, de extremos”, avaliou.
“A centro-direita teve mais sucesso nas eleições de 2024, considerando que há uma direita conservadora que nós sempre conhecemos. A direita extremista, representada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, não teve sucesso. O que ganhou foram os conservadores”, acrescentou.
Esquerda
Rócio Barreto alerta também para a necessidade de um redesenho da agenda da esquerda, que elegeu o menor número de prefeitos de capitais desde 1985, com apenas dois vencedores em capitais: João Campos (PSB), em Recife, e Evandro Leitão (PT), em Fortaleza. O Partido dos Trabalhadores elegeu 252 prefeituras no total, um crescimento em relação às municipais de 2020, quando foram 184. Mas, ainda assim, ficou em nono lugar no ranking dos partidos, atrás do PSD (891), MDB (864), PP (752), União Brasil (591), PL (517), Republicanos (440), PSB (312) e PSDB (276).
“A esquerda precisa reavaliar o que foi apresentado até agora para a sociedade, melhorar sua agenda e fazer um redesenho. Nesse redesenho, deve haver uma comunicação melhor para as pessoas de todas as categorias e faixas etárias; a esquerda não tem conseguido conversar nem levar sua narrativa para essas pessoas. Desse modo, se não mudar e reavaliar a forma como tem se expressado e se comunicado com a sociedade, vai ser ladeira abaixo, o que pode prejudicar até mesmo a reeleição do presidente Lula”, afirmou.
Mas ele ponderou ainda que, neste momento, não há um nome forte o suficiente para abalar a possível reeleição do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Neste momento, não vejo nenhum candidato que possa concorrer com o presidente Lula e que tenha condições e pilares de sustentação para levar uma disputa mais a fundo, disputando em condições de igualdade”, finalizou.