O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou, nesta quarta-feira (30), seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para consultas. A medida visa expressar repúdio às declarações feitas por representantes do governo brasileiro e à atuação do Brasil para que o país presidido por Nicolás Maduro tivesse vetada a sua pretensão de entrar no Brics, o bloco econômico inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, e que agora ampliou-se para outros países.
Sob orientação de Maduro, a crítica foi especialmente direcionada ao assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, acusado de agir como “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
Na nota emitida, o Ministério do Poder Popular para Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela afirmou: “Convocamos o Encarregado de Negócios da República Federativa do Brasil para expressar nossa mais firme rejeição às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de porta-vozes do governo brasileiro, em particular as feitas por Celso Amorim.” O texto prossegue, denunciando a atuação de Amorim como uma “agressão constante” que compromete as relações políticas e diplomáticas entre os dois países.
“Que agindo mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, dedicou-se de maneira impertinente a emitir juízos de valor sobre processos que só dizem respeito aos venezuelanos, às venezuelanas e às suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante, que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que nos unem a ambos os países”, diz o trecho.
Cúpula do Brics
A convocação do embaixador ocorre em um momento delicado nas relações bilaterais, especialmente após a 16ª Cúpula do Brics, realizada de 22 a 24 de outubro em Kazan, na Rússia. Durante o evento, o Brasil votou contra a inclusão da Venezuela como membro associado do bloco, uma nova modalidade que permite participação limitada sem direito a voto.
Maduro, presente na cúpula, expressou seu desagrado com a decisão, afirmando que o povo venezuelano sente “indignação e vergonha” pela atitude brasileira. O Itamaraty, por sua vez, justificou que o grupo apenas estabeleceu critérios para novas adesões.
Na nota desta quarta-feira, a Venezuela criticou a posição do Brasil, classificando-a como uma “atitude antilatino-americana” que resulta em “punição coletiva” ao povo venezuelano. O documento reafirma o compromisso da Venezuela com a integração regional, conforme os princípios da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), e anunciou que o país se reserva o direito de tomar medidas em resposta à decisão brasileira.
“Foi expressado que a Venezuela se reserva, no âmbito de sua política exterior, as ações necessárias em resposta a tal atitude, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto que até agora havia sido desenvolvido em todos os espaços multilaterais”, acrescenta.
O comunicado surge após Amorim considerar, nesta terça-feira (29), a reação da Venezuela sobre o veto “desproporcional”.
“A reação que tem havido à entrada da Venezuela no Brics é uma reação totalmente desproporcional, cheia de acusações ao presidente Lula e à chancelaria”, a declaração foi dada durante uma audiência na comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
Embora Brasil e Venezuela sejam aliados históricos, as relações se deterioraram após o governo brasileiro não reconhecer a reeleição de Nicolás Maduro em agosto de 2024, contra o candidato Edmundo González (Unidad). O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ), a mais alta corte do país, validou o resultado, mas proibiu a divulgação das atas eleitorais, exacerbando a tensão entre os países.