Depois da eleição, Galípolo será sabatinado

Expectativa é que ele seja aprovado, mas terá que explicar como Lula não influenciará seu trabalho

Por Gabriela Gallo

Indicação de Galípolo deve ser aprovada pelo Senado

Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a presidência do Banco Central (BC) a partir de 2025, o economista Gabriel Galípolo será sabatinado no Senado Federal nesta terça-feira (8). Na véspera da sabatina, nesta segunda-feira (7), o presidente Lula se reuniu com Galípolo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio da Alvorada. O encontro não estava previsto em nenhuma das agendas dos envolvidos e foi a última reunião antes da sabatina. Após o encontro com Lula, Galípolo também se encontrou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Caso o Senado aprove a indicação do economista para chefiar o BC, Galípolo assumirá o posto no lugar de Roberto Campos Neto para os próximos quatro anos. Como Gabriel Galípolo é diretor de Política Monetária do BC, caso sua indicação seja aprovada pelo Senado, o poder Executivo ainda terá de indicar nomes para três diretorias da instituição: Política Monetária, Regulação e Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduto.

Primeiramente, Gabriel Galípolo será sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em sessão marcada para as 10h. Se aprovado, ele seguirá para votação no plenário da Casa. Em suas sabatinas, ele terá de responder perguntas dos senadores quanto à sua indicação, com respostas de tempo estipulado de dez minutos.

Favorável

De acordo com o artigo 52 da Constituição, toda indicação para a diretoria do Banco Central passa pelo crivo do Senado, com sabatina e votação na CAE, seguida de votação no Plenário. Ambas as votações são secretas e o nome deve ser aprovado pela maioria dos votantes presentes. Portanto, para ser aprovado na CAE ele precisa de ao menos 14 votos dos senadores. O relator da sabatina é o líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), que entregou nesta segunda-feira o relatório favorável à indicação do economista.

"O seu currículo revela o alto nível de qualificação profissional, a sua larga experiência em cargos públicos e a sua sólida formação acadêmica, com a devida capacitação em assuntos econômico-financeiros", declara o relatório de Jaques Wagner.

A sabatina é um meio de os senadores avaliarem a capacidade técnica, tal como a isenção do indicado para assumir o posto. Na reunião, os parlamentares devem questionar Galípolo sobre como ele vai trabalhar para conter a inflação e se ele tomará decisões de forma independente ou se será influenciado pelo Palácio do Planalto.

Comparações

Desde que foi sabatinado diretor de Política Monetária do Banco Central, em julho de 2023, Galípolo busca ter um jogo de cintura entre os interesses do governo federal e do Congresso Nacional. Nos bastidores, a expectativa é que sua indicação seja aprovada, com baixas chances de ser derrubada.

O atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, tem uma relação conturbada com o governo do presidente Lula – a principal crítica do governo devido as baixas reduções da taxa básica de juros, na avaliação do Executivo.

Galípolo defende que a comunicação e a transparência são as formas corretas de se fazer políticas públicas. Ele avalia que a polarização é prejudicial para os negócios e a economia no geral, mas não deixa de ter conexões de pensamento socioeconômico com o ministro Fernando Haddad. Em meio a suas articulações, ele trabalhou para amenizar a rejeição dos empresários ao governo petista.

Urgência

Para que a sabatina e a aprovação pudessem acontecer, o governo teve que retirar, na sexta-feira (4) o pedido de urgência para a aprovação do projeto que regulamenta a reforma tributária.

A urgência travava a pauta do Senado. Ou seja, nada poderia ser votado em plenário antes da aprovação do projeto, que está em discussão na Comissão de Assuntos Econômicos. Ocorre, porém, que o Senado está disposto a mudar o texto que foi aprovado pela Câmara, e não tem pressa nessa discussão.

A manutenção da urgência, assim, inviabilizaria o avanço de qualquer outra pauta. E se o governo tem pressa com a reforma tributária, tem pressa também quanto à aprovação de Galípolo. Sem saída, retirou, então, a urgência.