O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil respondeu, na última sexta-feira (1º), às manifestações da Venezuela sobre o país e seus representantes. Em nota, o Itamaraty expressou surpresa em relação ao “tom ofensivo” adotado pelas autoridades venezuelanas.
“O governo brasileiro constata, com surpresa, o tom ofensivo de declarações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e a seus símbolos nacionais”, diz o início da nota. “A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em vez de recorrer a canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e seu povo”, acrescenta.
Na quinta-feira (31), a Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela publicou uma imagem em seu Instagram mostrando a silhueta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a bandeira do Brasil. A mensagem acompanhada pela imagem afirmava: “Caracas não aceita chantagens de ninguém”, além da hashtag: “Quem mexe com a Venezuela se dá mal”.
Brics
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou, na última quarta-feira (30), seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para consultas. A medida visa expressar repúdio às declarações feitas por representantes do governo brasileiro e à atuação do Brasil para que o país presidido por Nicolás Maduro tivesse vetada a sua pretensão de entrar no Brics como membro associado.
Sob orientação de Maduro, a crítica foi especialmente direcionada ao assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, acusado de agir como “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
De acordo com o cientista político João Felipe Marques, a atual tensão entre Brasil e Venezuela tem “raízes que transcendem as personalidades de Lula e Maduro”. Ele avalia que a recusa do Brasil em apoiar a entrada da Venezuela nos Brics alinha-se com a postura predominante da comunidade internacional, no entanto, “expõe uma inconsistência”.
“Os Brics carecem de critérios transparentes quanto à admissão de regimes autoritários, especialmente considerando que China e Rússia, países com sistemas reconhecidamente autocráticos, são membros do bloco. A diferença parece residir menos na natureza do regime político e mais na capacidade econômica: enquanto China e Rússia mantêm economias robustas, a Venezuela não conseguiu capitalizar adequadamente seus recursos petrolíferos para construir uma economia produtiva.”
O especialista afirma que as críticas frequentes contra o Brasil “revela uma abordagem pouco adequada ao praticado nas relações internacionais”.“Esta postura não apenas prejudica o diálogo bilateral como também enfraquece a própria posição venezuelana no cenário internacional”, acrescentou Marques.
Figura retórica
O cientista político Kleber Carrilho analisa que o cenário não é exatamente um conflito, mas sim “pura figura retórica”. “Na verdade, é uma pressão do governo de Maduro para tentar conseguir alguma ação após o evento dos Brics, além de servir para manter a narrativa interna de um inimigo a ser combatido. Por enquanto, é pura figura retórica”, afirma.
Embora Brasil e Venezuela tenham uma aliança histórica, as relações se deterioraram após o governo brasileiro não reconhecer a reeleição de Nicolás Maduro em agosto de 2024, em oposição ao candidato Edmundo González (Unidad). O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ), a mais alta corte do país, validou o resultado, mas proibiu a divulgação das atas eleitorais, exacerbando a tensão entre os dois países.
Na nota divulgada na última sexta-feira (1º), o Itamaraty também se manifestou sobre o pleito. “O interesse do governo brasileiro no processo eleitoral venezuelano decorre, entre outros fatores, da condição de testemunha dos Acordos de Barbados, para os quais foi convidado, assim como para o acompanhamento do pleito de 28 de julho”, diz o texto.