Após meses intensos de campanha, nesta terça-feira (5) acontece as eleições para presidente dos
Estados Unidos da América (EUA). O possível resultado ainda é incerto, já que as pesquisas eleitorais apontam um resultado acirrado entre os candidatos Donald Trump (partido Republicanos) e Kamala Harris (partido Democrata). Como a disputa está polarizada em diversos estados norte-americanos, a expectativa é que o resultado com o nome do vencedor só seja divulgado à partir de quarta-feira (6).
A última pesquisa divulgada pelo New York Times divulgada no último final de semana aponta um empate técnico entre os candidatos nos chamados estados-chave, que são aqueles em que não há a tradicional definição da preferência dos eleitores.
Ao Correio da Manhã, o cientista político Igor Lucena, destacou que é difícil afirmar ou prever um candidato vencedor, considerando as pesquisas eletorais. Todavia, ele pontuou que há pontos além das pesquisas eleitorais que precisam ser levados em consideração e, considerando-os, do candidato republicanos pode apresentar uma leve vantagem.
“Nunca na história dos Estados Unidos um presidente com menos de 35% de aprovação fez sua sucessor, esse é um ponto importante”, destacou. Ao final de seu mandado como então presidente dos Estados Unidos, em 2021, Trump tinha apenas 34% de aprovação – o menor resultados desde que assumiu a presidência em 2017.
“Junto com esses fatores, há outros detalhes como: o enfraquecimento da economia nacional; o fato do Partido Republicano ter ganhado nos últimos dois anos 150 mil eleitores, enquanto o [partido] Democrata perdeu três milhões [de eleitores]. Então se juntar esses fatores, há uma virada de que Trump pode ter voto escondido. [...] Donald Trump pode ser o ‘voto envergonhado’. O Trump é favorito? Não dá pra dizer, mas esses dados dão pra ele algum tipo de margem que pode explicar uma possível vitória sua”, completou o cientista político.
Impactos
Questionado pela reportagem, Igor Lucena, que também é economista, destacou que independente de quem ganhar a corrida presidencial, ambos os candidatos têm visões mais protecionistas e o novo presidente dos EUA deve priorizar uma valorização do dólar e aplicar maiores tarifas ao Brasil.
Porém, uma vitória para Trump terá maiores impactos econômicos não só ao Brasil como no resto do mundo, já que Trump confirmou que aumentará as tarifas em produtos estrangeiros. Os Estados Unidos é o segundo principal parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China. Com isso, o aumento dessas tarifas desencadeará um impacto no fluxo de importação e exportação entre os países.
No campo diplomático, caso Kamala Harris seja eleita, as relações diplomáticas entre os dois país tende a permanecer do “mais do mesmo”. Já uma suposta reeleição de Donald Trump pode resultar em grande mudanças entre as nações. Além da falta de acordos, Lucena avalia que uma vitória de Trump pode trazer mudanças para o rumo das Big Techs no Brasil. Ele relembrou que o bilionário dono da rede social “X” (antigo twitter), Elon Musk, que já teve problemas com o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, é um forte apoiador do candidato que “nitidamente será um secretário de Trump” em seu governo.
“O poder de um secretário de estado americano é muito maior que qualquer ministro ou tribunal do Brasil. Então isso pode mudar radicalmente o que vai acontecer do ponto de vista das decisões de Big Techs aqui no Brasil”, pontuou.
Diferenças
Há uma série de diferenças entre o processo eleitoral no Brasil e nos Estados Unidos. Enquanto no Brasil o voto é obrigatório, direto e realizado em urnas eletrônicas, a maioria dos votos norte-americanos são impressos (no geral depositados em correio), não são obrigatórios e nem diretos.
De acordo com a organizaçãoVerified Voting, que promove o uso de tecnologia responsável no processo eleitoral, cerca de 70% dos eleitores registrados votarão em cédulas de papel. A maioria das cédulas de papel são contabilizadas com scanners ópticos ou são feitos manualmente no local de votação. Os 30% restantes votam em máquinas eletrônicas de registro direto (DRE, em inglês).
Mas o principal ponto destacado pelo analista político é que no processo eleitoral americano os estados são soberanos e “não existe um um sistema de tribunal eleitoral unificado”. “Cada estado faz a análise de seus votos, do seu modelo – que pode ser híbrido, papel e cédula –, apresenta esses resultados e depois todos eles são levados ao Congresso para ratificarem o que os estados decidiram pelo colégio eleitoral. Quem decide não é o voto popular. O colégio eleitoral foi criado com o sentido de dar voz aos estados pouco populosos que eles juntos podem, de fato, mudar a eleição, que é o que acontece na prática. A mídia junta os resultados dos estados, a partir daí quando fazem a contagem do colégio eleitoral, o Congresso ratifica esses votos e a pessoa se torna um presidente americano”, explicou Lucena.