Por Karoline Cavalcante
Apesar da vitória de Donald Trump na corrida eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não deve disputar as eleições presidenciais de 2026, uma vez que é improvável que consiga reverter sua inelegibilidade a tempo. A avaliação é do cientista político Rócio Barreto, que acredita que as possibilidades de Bolsonaro retornar ao cenário eleitoral estão cada vez mais distantes.
"Não vejo chances do Congresso aprovar o PL da anistia, tampouco aprovar alterações na Lei da Ficha Limpa, o que poderia, sim, abrir as portas novamente para uma candidatura do ex-presidente Bolsonaro. Creio que isso não vai acontecer. Toda essa bagunça, essa falação dele, na intenção de vir a ser candidato, é apenas para fazer mídia, gerar comentários, notícias e manter-se no comentário das pessoas", afirmou Barreto.
O analista se refere a dois projetos que circulam no Congresso Nacional para tentar reverter a inelegibilidade do ex-presidente da República. Está em discussão no Senado o PLP 192/2023, que flexibiliza a Lei da Ficha Limpa, alterando o período de inelegibilidade para oito anos após a condenação em segunda instância (atualmente é após o cumprimento da pena). Se aprovado, a mudança valeria retroativamente.
Além disso, na Câmara, tramita o PL 2.858/2022, que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes depredaram a Praça dos Três Poderes. Ambos os projetos podem beneficiar Bolsonaro em uma possível reeleição.
Em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por oito anos — até 2030 —, e proíbiu a sua candidatura no próximo pleito. Entre os atos que levaram à condenação por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, estão os ataques ao sistema eleitoral brasileiro feitos por Bolsonaro durante uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, em 2022.
"Da mesma forma, há quem ache que o presidente dos Estados Unidos, eleito agora, possa ter alguma interferência nas eleições do Brasil e fazer com que os ministros do Supremo Tribunal Federal voltem atrás na lei que o considerou inelegível. Acredito que isso não ocorrerá de forma nenhuma", acrescentou Rócio.
Direita
De acordo com o especialista, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), seriam nomes que poderiam lançar candidaturas para representar a direita brasileira, mas ponderou que os políticos não devem topar disputar com o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, considerou difícil que o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mude de ideia e faça parte da disputa.
"Caso o presidente Lula tenha uma boa aprovação e tente disputar a reeleição, todos sabem que não é um bom negócio. Algum candidato pode vir a fazer isso, mas apenas para fazer laboratório, ganhar nome e obter mais reconhecimento Brasil afora. Eu creio que pode ser dessa forma", disse. "Não vejo o governador Tarcísio mudar de ideia e querer ser candidato à presidência da República. Não está nos planos dele. Ele tem interesse em renovar o mandato", pontuou Barreto.
Chapa com Temer
Nos últimos dias, rumores sobre uma possível chapa de Bolsonaro com o ex-presidente Michel Temer (MDB) ganharam destaque na mídia. Bolsonaro sugeriu que o ex-presidente americano Donald Trump gostaria de vê-lo novamente candidato à presidência do Brasil e citou Temer. No entanto, Temer rapidamente desmentiu qualquer possibilidade de se lançar novamente na política, afirmando que "já fez o que tinha que fazer" ao longo de sua carreira. As duas declarações foram feitas à Folha de S. Paulo.