A 19ª Cúpula do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo, mais União Africana e União Europeia) foi marcada por discurso contra desigualdade, avanço no combate às mudanças climáticas e transição energética – visando a Conferência do Clima a ONU (COP 30), marcada para acontecer no Brasil, em Belem (PA), em 2025. No último dia do evento que tomou conta do Rio de Janeiro, na terça-feira (19), o Brasil “passou o bastão” para a África do Sul, país que sediará a próxima Cúpula do G20.
O Brasil na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a presidir a Cúpula do G20 ainda em 2023, na Índia, e desde então adotou três pilares centrais para serem debatidos nos encontros. São eles firmar acordos para: combater à fome e à pobreza global (lançada oficialmente pela Aliança Global contra a Fome e a Pobreza); a reforma da governança global, na intenção de trazer maior representatividade para países emergentes em órgãos internacionais – como a sugestão de reforçar o Conselho de Segurança da ONU; e a sustentabilidade e enfrentamento às mudanças climáticas.
Energia Limpa
Pouco após o fim do G20, o presidente Lula e o Primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, lançaram a Aliança Global para Energia Limpa. A medida foi anunciada um dia após o Brasil firmar uma parceria com a Argentina de energia renovável, no qual o Brasil importará gás natural argentino.
De acordo com as autoridades, em um artigo enviado à Folha de São Paulo, a Aliança Global para Energia Limpa visa triplicar a capacidade de produção de energia renovável e duplicar a eficiência energética até 2030, “como foi preconizado no Global Stocktake, um balanço global da ONU para acompanhar os progressos realizados no âmbito do Acordo de Paris”. “O mundo está fora da rota certa para atingir suas metas climáticas. Precisamos limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, no máximo”, reiterou o documento.
A medida fora adiantada pelo presidente brasileiro durante o G20. Na sessão que tratou de desenvolvimento sustentável e transição energética, o mandatário convocou os países desenvolvidos do G20 a adiantarem, em até dez anos, as metas de neutralidades climáticas inicialmente previstas para 2050, como forma de combater o aquecimento global e as mudanças climáticas.
“Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. [...] Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais”, afirmou Lula.
Economia
Para o Presidente do Instituto Monitor da Democracia e Conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig) Márcio Coimbra, o Brasil conseguiu deixar um legado no G20 com os debates e alternativas para o combate da fome e da desigualdade mundial, especialmente com a formação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Todavia, o cientista político avalia que falta para o Brasil firmar políticas globais para atrair investimentos e fortalecer a economia. Ele cita como exemplo o chamado “instrumento de avaliação de investimento estrangeiro”. O modelo, adotado por diversos países que integram o G20, consiste na criação de políticas de revisão na recepção de investimento externo em setores importantes da economia desses países. A proposta é promover a diversificação econômica e evitar que setores estratégicos estejam concentrados exclusivamente com empresas de um único país. Além disso, a medida também visa impedir que grupos ligados ao crime organizado usem o investimento como lavanderia de recursos ilícitos.
“Hoje, praticamente todos os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] aprovaram legislações neste sentido. O resultado foi amplamente favorável, fortalecendo essas economias, uma vez que passaram a receber mais recursos saudáveis, evitando a entrada de capitais sujos e indesejados, oriundos do crime organizado. Além disso, foi possível blindar setores estratégicos da economia de uma preocupante dependência predatória, que abre caminho para uma perigosa influência externa”, afirmou.
“O saldo da reunião do G20, portanto, pode ir além dos encontros entre autoridades e do fortalecimento de canais de diálogo importantes entre as nações. É importante que o Brasil tenha liderado este processo e concretizado a discussão de sua agenda. Porém, é também nossa responsabilidade ir além da agenda do G20 e aproveitar este intercâmbio para adotarmos políticas importantes para nosso país, que já são realidade nas nações mais desenvolvidas do bloco”, completa Coimbra.