Vitória de Trump pode ser munição para candidatura de Bolsonaro

Ex-presidente e aliados avaliam que gestão de Trump pode pressionar votação de PL da anistia

Por Gabriela Gallo

Vitória de Trump pode projetar Bolsonaro para concorrer em 2026

A vitória de Donald Trump (partido Republicanos) na corrida presidencial dos Estados Unidos para 2025 foi vista como uma vitória para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados. Após o resultado das eleições norte-americanas, diversos parlamentares da ala bolsonarista comemoraram o resultado, levantando a possibilidade da retirada da inelegibilidade de Jair Bolsonaro para que ele concorra às eleições presidenciais brasileiras em 2026.

“Esta vitória encontrará eco em todos os cantos do mundo, impulsionando não apenas os Estados Unidos, mas também o fortalecimento da direita e dos conservadores em muitos outros países. Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho. Que nossos compatriotas vejam neste exemplo a força para jamais se dobrarem, para erguerem-se com honra, seguindo o exemplo daqueles que nunca se deixam vencer pelas adversidades”, declarou Bolsonaro em suas redes sociais.

Na última semana, em entrevista a revista Veja, o presidente afirmou que disputará as eleições de 2026.

Em entrevista ao Canal UOL, nesta quarta-feira (6), o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, disse que a vitória de Trump trará benefícios políticos a Jair Bolsonaro. Porém, a eleição norte-americana não significa benefícios jurídicos ao ex-presidente brasileiro. “Eu não acredito que o Supremo [Tribunal Federal] altere o procedimento jurídico. Não acredito nisso”, disse.

Questionado, Costa Neto – que trabalha nos bastidores para conceder anistia ao ex-presidente, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) torna-lo inelegível por oito anos, por acusações de abuso de poder político – afirmou que Bolsonaro deve ser anistiado de sua condenação antes de 2030. “Os políticos nossos, quase todos os antigos tiveram anistia. As condenações devem sair antes, na minha opinião, porque já ouviram todo mundo, estão bem adiantados, mas essas providências para nós trabalharmos numa anistia, vai ser em meados do ano que vem”, declarou.

“Se [Bolsonaro] for preso, ele elege um poste de dentro da cadeia. Eles não vão fazer isso com ele”, completou o presidente do PL.

PL da Anistia

Uma alternativa para liberar o ex-chefe do Executivo para tentar voltar à presidência é o projeto de lei que concede anista aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília (PL 2858/2022). O texto, relatado pelo deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), concede anista a todos que apoiaram os atos “por quaisquer meios, inclusive contribuições, doações, apoio logístico ou prestação de serviços e publicações em mídias sociais e plataformas”. Isso vale para o ex-presidente e seus aliados, já que eles são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por terem apoiado manifestações que terminaram na depredação de patrimônio.

Porém, o futuro do projeto que concede anistias aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 ainda é incerto. Primeiro, o projeto foi pautado e discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e iria ser votado pelos membros da comissão no dia 29 de outubro. Entretanto, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criou uma comissão especial para trata do tema.

Com isso, o texto voltou a estaca zero, já que o relatório do deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) será novamente discutido entre os parlamentares da comissão, que ainda serão definidos. A medida de Lira buscou um apoio do PT e partidos de esquerda para apoiarem seu candidato à presidência da Câmara dos Deputados, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). A medida deu certo e Motta atualmente conta com o apoio da federação PT-PcdoB-PV.

Contudo, pressionado pelos parlamentares da ala bolsonarista e demais deputados favoráveis ao PL da Anistia, Lira disse na última semana que o tópico será resolvido ainda durante seu mandato, que termina em fevereiro de 2025.

Em entrevista ao programa Entrelinhas, do veículo Gazeta do Povo, a presidente da CCJ, deputada Caroline De Toni (PL-SC), disse que a vitória de Donald Trump pode contribuir para o projeto ser aprovado no Congresso, já que a gestão do futuro novo presidente estadunidense pode pressionar o Brasil em temas de liberdade e fortalecer a posição de conservadores. “Estamos otimistas com a vitória de Trump”, afirmou De Toni.